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28/03/2021

'A sensação de incapacidade diante do desconhecido provoca revolta'

Não é só o maior tempo de convivência dentro dos lares ou com a vizinhança que tem acirrado os ânimos entre as pessoas. Segundo o psicólogo e terapeuta Arnaldo Vicente, especialista na área cognitiva-comportamental, o aumento dos conflitos está diretamente relacionado ao fato de as mudanças decorrentes da pandemia terem se instalado como uma imposição, restringindo - e muito - o direito de escolha dos indivíduos.

E, passado um ano desta transformação drástica, o horizonte ainda segue desconhecido. "Além de poder tirar nossas vidas, a Covid-19 tirou nosso modo de viver, o que gera revolta, intolerância e, principalmente, uma expectativa, que a gente não pode controlar, de que tudo isso acabe. As pessoas não previam que seriam colocadas nesta situação, que perderiam pessoas que amam e que não poderiam mais fazer suas escolhas".

Esta falta de controle mínimo sobre qualquer aspecto da vida, inclusive sobre a garantia da manutenção da saúde e da renda, provoca, segundo Vicente, um sentimento de incapacidade generalizada. Este estado pode levar à perda ou redução da inteligência emocional dos indivíduos, que ficam suscetíveis a desenvolver até mesmo doenças mentais mais graves. "As estatísticas mostram e eu percebo no meu consultório que o número de pessoas ansiosas e depressivas aumentou muito. A sensação de incapacidade generalizada pode provocar transtorno de ansiedade generalizada, irritabilidade, raiva, angústia, até chegar à depressão e, em alguns casos, em ideação suicida".

COMPENSAÇÃO

O psicólogo explica, ainda, que as relações mais próximas, como as com a família, podem ter se deteriorado durante a pandemia porque boa parte das pessoas estava acostumada a compensar com outras atividades, como o trabalho e a convivência com os amigos, vínculos que já não estavam tão bem estabelecidos no ambiente doméstico.

"Então, antes da pandemia, estas pessoas conseguiam conter mais as emoções e escolher uma estratégia mais funcional resolver os conflitos. Mas, agora, elas estão se sentindo fracassadas, detonadas o tempo todo. O pessimismo, que reflete a situação real e trágica que estamos vivendo, tomou conta das pessoas", aponta, salientando, inclusive, que a pandemia contribuiu para o aumento de divórcios no País.

Como forma de exercitar a inteligência emocional, ele orienta as pessoas a utilizarem o entendimento sobre a gravidade do momento que o Brasil vive para tomar atitudes efetivas que possam ajudar a conter a propagação do vírus. Para tanto, há necessidade de compreender que este atual sentimento de incapacidade é passageiro e, a partir disso, será possível lidar com os problemas de maneira mais racional e menos imediatista.

'VIRADA DE CHAVE'

Arnaldo Vicente pondera, contudo, que esta 'virada de chave' pode ser complexa para boa parcela das pessoas, ainda mais neste que é o momento mais crítico da pandemia, com o sistema de saúde em colapso, a economia agonizando e a vacinação da população em ritmo lento.

"O sentimento é de pânico coletivo. Anormal é quem está equilibrado emocionalmente. Mas, se a pessoa não olhar para si e entender que possui recursos dos quais ela pode se beneficiar e beneficiar outras pessoas, ela vai continuar adoecendo, se sentindo mal compreendida e acreditando que a única verdade é a sua. E tudo isso leva à intolerância, à agressividade, à raiva e à falta de empatia", completa.

FALA-POVO

Fotos|: Aceituno Jr

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Fonte: JC Net
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