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Foi com o dedo indicador firme sobre o peito do comerciante Fernando Luiz Maia, 41 anos, que o médico disse: "nossa equipe está aqui para salvar vidas, mas, em 30 anos de profissão, posso dizer que o senhor não precisa agradecer ninguém além de Deus. O que presenciamos aqui foi um milagre".
E Fernando, que vende cachorro-quente com a esposa Camila Fernanda Favero, 30 anos, em um carrinho na região central de Bauru, não cogita discordar. "Foi um milagre. Ter minha família saudável é meu maior presente de Dia dos Pais, da minha vida toda", comemora.
O comerciante, hoje, respira aliviado com o filho Pedro no colo e se emociona com um passado recente de desespero e descrença, quando Camila, acometida pela Covid-19, quase morreu, enquanto dava à luz Pedro, hoje com quase três meses de vida, em uma cesárea de emergência. Foram duas paradas cardíacas e 21 dias internada, sendo 13 deles sob intubação.
Camila estava grávida de oito meses, quando, diante do carrinho de cachorro-quente que garante o sustento à família na rua Agenor Meira, começou a se sentir mal. Era uma terça-feira de maio e, com o passar das horas daquele dia, a dor de cabeça e falta de ar foram piorando. "Até recebermos o diagnóstico de Covid-19, ela ficou em casa, mas, em questão de poucos dias, antes de o exame ficar pronto, o mundo desabou. Eu estava trabalhando e ela me ligou dizendo que não estava aguentando mais. Fechei o carrinho e corri", relembra.
'MEDO DO PIOR'
Levada à Maternidade Santa Isabel, Camila estava respirando com dificuldade. Devido à gravidade do caso, em cerca de meia hora conseguiu vaga de UTI no Hospital Estadual (HE), que estava com 100% de ocupação à época.
"No dia 22, ela precisou ser intubada, estava com 70% do pulmão comprometido e com 65% de saturação. O estado era gravíssimo. Eu e ela sempre tivemos medo de intubação, porque muita gente conhecida morreu de Covid depois de ser intubada. Fiquei desesperado", relembra.
Momentos após o procedimento, Camila sofreu uma parada cardíaca e foi reanimada, quando os médicos decidiram fazer o parto de emergência e permitiram que Fernando assistisse o nascimento do filho por uma janela de vidro. Enquanto a cesárea era realizada, a paciente teve outra parada e a cortina da janela foi fechada, colocando o comerciante em um furacão de incertezas diante dos sonhos que tinha projetado com a família.
"Tinha umas oito, nove pessoas em volta dela e, durante a parada, acabaram fazendo um corte que provocou uma hemorragia. Eu gritei muito do lado de fora, com medo do pior, mas conseguiram estancar o corte e fazer a reanimação. Pedi muito para ter minha família de volta", conta.
'MAIOR PRESENTE'
Enquanto Camila, ainda intubada, retornava para a UTI Covid, Pedro, prematuro e sob influência dos sedativos aplicados na mãe, foi encaminhado à UTI neonatal da Maternidade. Dos boletins médicos que eram emitidos diariamente, as notícias sobre a criança eram boas, mas de Camila, não.
Em estado grave, ela precisou de sete bolsas de sangue e de hemodiálise. Inconformado, Fernando chegou a dormir no carro do estacionamento do HE, como forma de ficar mais próximo da esposa. Em 29 de maio, veio a alta de Pedro e o comerciante, com a ajuda de sua mãe, foi o responsável pelos primeiros cuidados com o bebê, o que lhe deu forças.
Aos poucos, o estado de saúde de Camila começou a melhorar, até que teve condições de ser extubada e transferida para um leito de enfermaria. Em 11 de junho, ela finalmente recebeu alta e pôde conhecer Pedro, seu tão desejado primogênito e o segundo filho de Fernando, que também é pai de uma adolescente de 15 anos, de um relacionamento anterior.
"Sou muito grato. Ver meu filho e minha esposa sem qualquer sequela é um milagre. Não existe presente maior. Depois do que passamos, nada do que acontecer daqui para frente será um problema. E quero que o mundo conheça essa nossa felicidade", completa.
