Após passar 157 dias em uma cama de hospital, José Valdemir Arantes, de 59 anos, traz para as estatísticas da pandemia uma das mais longas batalhas contra a Covid-19. Dos quase 6 meses que passou no Hospital Estadual (HE) de Bauru, quatro deles foram dentro de uma UTI, onde ele também superou dois AVCs, um isquêmico e um hemorrágico, além de choque séptico, hemodiálises e a necessidade de transfusões de sangue. A alta médica, nesta última semana, foi muito celebrada pela família, que considera um milagre.
Hoje, seo José, cujo apelido é Galo, está em casa, em Pederneiras, onde segue tratamento. Ele conta com traqueostomia e usa sonda gástrica. O longo período de sedação prejudicou a musculatura e a mobilidade das pernas.
"Ele ainda está um pouco confuso. Reconhece a gente, conversa, mas não sabe o que aconteceu direito, não tem ideia de que ficou internado tanto tempo. Quando ele chegou em casa, foi a maior alegria. Já queria que o colocássemos na cadeira de rodas para que pudesse passear no quintal. Ele quer muito voltar a andar, diz que está com saudades de tomar café, comer lanche e pescar", comenta a filha Talita Helena Arantes, 33 anos.
Enfermeira, ela conta que acompanhou de perto o tratamento do pai, especialmente após conseguir autorização médica para ajudar a tratá-lo e fazer os curativos nas escaras decorrentes da prolongada internação.
"A doutora Cibele Ghedini foi um anjo em nossas vidas. Agradecemos demais toda a equipe [do HE], fiz muitas amizades com o pessoal da enfermagem e técnicos de enfermagem. Eles me ajudaram muito e isso me dava forças", comenta.
DESESPERO E ESPERANÇA
Dias de desespero e esperança intercalados marcam a longa jornada dos Arantes em meio à Covid-19. Seo José teria sido até "desenganado". "Confesso que teve um dia em que ajoelhei ao lado da cama chorando e pedindo a Deus para que fizesse o melhor para que ele não sofresse mais", conta Talita. "Chegaram a cogitar cuidados paliativos, mas ele voltou para a UTI uma última vez e, inesperadamente, foi melhorando. Foi milagre", fecha questão a filha, contando havia grupos de orações diários.
No dia da alta médica, a família vestiu camisetas com a foto de seo José e a frase "seja forte, tenha fé, espera em Deus", além de levar cartazes com frases de fé e esperança ao hospital. Netos de seo José seguraram balões em sua saída da unidade médica com as inscrições, "Eu venci a Covid", "Pai, te amo" e "Juntos somos mais fortes".