A dona de casa Nair Guimarães de Souza, de 64 anos, nunca havia frequentado o Bom Prato, em Bauru, até abril do ano passado, quando a quarentena provocada pela pandemia fez com que o sustento da sua casa, onde vivem cinco pessoas, incluindo uma com deficiência física, se limitasse ao emprego de produtor de massas de um de seus filhos. Desde então, Nair se dirige até o restaurante para buscar as marmitas, que garantem a alimentação a toda a família. Com medo de passar fome, a dona de casa e muitos outros usuários do programa têm se antecipado para retirar as refeições, que chegam ao fim duas horas mais cedo do que o previsto. Antes, era possível pegar os pratos até as 13h30 e, agora, tudo acaba às 11h30.
Para a assistente de comunicação do Programa de Integração e Assistência à Criança e ao Adolescente (Aelesab) - entidade nomeada pelo governo estadual para administrar o Bom Prato local desde a sua fundação, em 13 de novembro de 2013 -, Rosi Santini, a antecipação das filas se dá devido à crise, que traz consigo o medo de passar fome. "Tanto que nós percebemos uma mudança do perfil dos nossos usuários. Antes, havia muitos trabalhadores do comércio, que passou a funcionar com restrições. Os colaboradores, então, deram lugar a pessoas desempregadas que buscam comer bem e de forma acessível", descreve.
Antes da pandemia do novo coronavírus, Rosi informa que o Bom Prato servia café da manhã a R$ 0,50 e almoço a R$ 1,00. Depois, o restaurante passou a fornecer marmitas para ambas as refeições, assim como para o jantar, que também custa R$ 1,00.
Ainda de acordo com a assistente de comunicação da Aelesab, outra mudança causada pelo atual cenário diz respeito ao fato de o restaurante também abrir aos finais de semana e feriados.
Segundo Rosi, o local oferece 300 refeições no café da manhã, 1,3 mil no almoço e 300 no jantar. "Agora, o pessoal começa a formar filas às 9h30 e, para evitar aglomerações, nós resolvemos abrir meia hora mais cedo, às 10h", avalia.
Mesmo assim, o JC constatou que havia duas filas extensas - uma preferencial e outra convencional - em volta do restaurante um pouco antes do horário do almoço desta terça-feira (2).
SOBRAS PARA A SEMANA
Quem estava por lá era dona Nair, do início desta reportagem. Ela se desloca ao Bom Prato duas vezes por semana e sai de lá com cinco marmitas em cada uma das visitas - embora haja uma restrição de três refeições por pessoa, o Estado abre algumas exceções. "Eu ainda não tenho o passe gratuito do ônibus e não compensa vir todos os dias, mas guardo as sobras para a semana inteira", justifica.
Segundo ela, se não fossem as marmitas do Bom Prato, a família jamais conseguiria se alimentar bem, afinal, só uma pessoa passou a sustentar a casa e o preço dos alimentos subiu bastante.
O caldeireiro aposentado Heleno dos Santos, de 67, começou a comer no Bom Prato há dois meses. Ele sai do Mary Dota, onde vive sozinho, rumo ao restaurante duas vezes por semana.
Lá, Heleno pega três marmitas em cada uma das visitas e garante a comida por vários dias. "Só assim para nós conseguirmos nos alimentar bem, porque o quilo da carne passou a valer R$ 40,00", finaliza.