Um dos pilares do gerenciamento de velocidade é o uso da fiscalização para obrigar os motoristas a cumprirem a legislação. Alguém é contra que se cumpra a lei? Que se obrigue motoristas a obedecerem ao que determina as regras de trânsito?A cidade de São Paulo, que depois de anos de redução de mortes, volta a apresentar números epidêmicos de óbitos no trânsito. A cidade alcançou a mais expressiva redução de mortes no ano que implantou os radares de controle de velocidade. Cidades como Bogotá, na Colômbia, também colheram números expressivos utilizando a tecnologia como ferramenta para assegurar segurança. Lá, os radares se chamam Câmara Salva Vidas.
Tudo isso é sabido, ressabido, testado e comprovado. Soma-se a isso o fato de que o histórico dos radares mostra que é uma imensa minoria aquela que insiste em não cumprir a legislação e continuar colocando em risco a vida de pedestres, ciclistas, crianças e idosos. Em São Paulo, apenas 5% dos carros respondem por mais da metade das infrações.
Apesar de tudo isso, o prefeito de Marília (SP), Vinícius Camarinha (PSDB), recém-empossado no cargo, resolveu celebrar, no primeiro dia útil de governo, a morte. Promoveu solenidade festiva, acompanhado de assessores e apoiadores, rompendo com alicates os cabos dos radares que fiscalizavam o trânsito, protegiam os que cumpriam a lei e os vulneráveis.
Tal qual Odorico Paraguaçu, o prefeito de Marília parece buscar cadáveres para inaugurar sua gestão. Como toda ação tem reação, naquele fatídico dia do desligamento das câmeras que salvam vidas, três jovens ficaram gravemente feridos em um sinistro na Avenida Cascata.Na novela, permitam-me antecipar o final, Odorico morre e ele próprio vem a ser o cadáver que inaugura o cemitério. Na vida real, as mortes virão daqueles que precisam se deslocar nas cidades. Podem ser crianças, idosos, vulneráveis. Pode ser eu, você, um dos seus parentes ou até mesmo o prefeito.