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18/04/2021

Com uma a cada 3 quadras demandando recape, Bauru só conta com tapa-buraco

Uma cidade fundada há 124 anos, que cresceu de forma desordenada e sem planejamento urbano, trouxe como consequência um problema que atormenta, todos os dias, seus moradores: os buracos no asfalto. Atualmente, estima-se que uma a cada três quadras de Bauru esteja com a pavimentação 'vencida', que já receberam a quantidade limite de tapa-buracos e, agora, precisam ser recapeadas.

Porém, as notícias não são boas para quem é obrigado a ziguezaguear para escapar deste 'queijo suíço' viário. Conforme o JC apurou, não há previsão de um centavo sequer no Orçamento do Município para a realização deste serviço em 2021 e, por isso, a prefeitura se vê diante do desafio de dar conta da demanda incessante por tapa-buracos para remediar, de forma paliativa, o problema.

O asfalto é apontado pelos bauruenses como um dos três principais problemas da cidade, conforme revelou pesquisa encomendada pelo Jornal da Cidade e elaborada pela Ágili. Mas, sem recursos em caixa, esta parece ser uma queixa longe de ter uma solução efetiva.

"Chega um momento em que o serviço de tapa-buraco é como pegar um tecido velho, já esgarçado e puído, e fazer um remendo com tecido novo. Os buracos vão voltar a surgir bem onde foi feita a recuperação", comenta uma fonte ouvida pelo JC.

Por meio da assessoria de imprensa da prefeitura, Suéllen Rosim confirmou não haver disponibilidade orçamentária para recapes neste ano.

Porém, afirma que em 2022 a expectativa é de que "a verba seja um pouco melhor", quando "a prefeitura tentará viabilizar obras com emendas parlamentares e recursos próprios".

INVESTIMENTO

Consultados, especialistas na área estimam que Bauru tenha aproximadamente 18 mil quadras pavimentadas, sendo que 6 mil delas precisam ser recapeadas, serviço que geraria uma despesa de R$ 200 milhões aos cofres municipais. O investimento, contudo, pode chegar a R$ 300 milhões, se o trabalho incluir fresagem para nivelamento da capa asfáltica, o que garantiria maior durabilidade ao recape.

"Um exemplo claro é a avenida Nuno de Assis (recapeada em 2018). Da altura da Nações em direção ao Fórum, foi feita a fresagem antes do recape e o asfalto está em boas condições. É algo que não foi feito do outro lado, no sentido Mary Dota, e o asfalto já tem muitas ondulações", descreve o especialista.

De acordo com ele, a durabilidade de média do serviço é de oito anos para ruas de fluxo intenso e de até 20 anos para vias com menor tráfego, já considerando o tempo limite para realização de tapa-buracos. Porém, uma série de fatores pode encurtar esta vida útil, como vazamentos da rede de água e esgoto - que são outro problema crônico em muitos bairros onde a tubulação é antiga e obsoleta -, ausência de sistema de drenagem nas vias e até mesmo o uso de materiais de baixa qualidade ou serviços executados de maneira inadequada.

E a avenida Rodrigues Alves?

Em meio a todas as demandas que surgem diariamente na cidade, o único recape que parece garantido é o da avenida Rodrigues Alves, principal corredor de circulares de Bauru, caracterizado pelas ondulações no pavimento provocadas pelo movimento constante de frenagem e aceleração destes veículos pesados. No ano passado, o deputado Rodrigo Agostinho fez uma emenda parlamentar de R$ 2,9 milhões para recomposição do trecho que vai da avenida Pedro de Toledo até a Nações Unidas. Outro R$ 1 milhão virá do deputado Capitão Augusto para execução do recape a partir da Pedro de Toledo até o viaduto Mauá, que dá acesso à Vila Falcão. A obra, no entanto, ainda não foi licitada pela prefeitura.

Por nota, a administração municipal informou que o projeto contempla "recape-padrão", mas que há estudos sobre a possibilidade de usar algum outro tipo de material, como malha de aço com concreto, para assegurar maior durabilidade ao serviço. "Mas isso dependerá de mais aporte financeiro, pois o atual projeto não contempla estas alterações", finaliza.

Não apenas os buracos, mas também os afundamentos no pavimento podem ser verdadeiras armadilhas para veículos e pedestres. Em boa parte das vezes, estas depressões na via são resultado da demora para realização de serviços de tapa-buracos ou para recomposição da capa asfáltica após consertos de vazamentos de água ou esgoto.

Assim, a água da chuva infiltra no solo e, mesmo depois que o asfalto é recuperado, ele pode afundar. Exemplos podem ser observados em vários pontos da cidade, como na rua Engenheiro Xerxes Ribeiro dos Santos, no Jardim Redentor, que foi recapeada há menos de uma década. Além disso, após o conserto de vazamentos ou reparos em galerias, o solo pode não ser compactado da forma adequada pelas equipes antes de receber a camada de asfalto, o que agrava ainda mais o problema.

Mas danos podem ocorrer até mesmo em bairros que receberam pavimentação há pouco tempo, quando proprietários de lotes decidem fazer o desdobro dos imóveis após a colocação do asfalto. Trata-se de um trâmite permitido pela Lei de Parcelamento de Solo e que ocorreu ou ocorre com frequência em locais como o Jardim Tangarás, Santa Edwirges e Parque Viaduto, apenas para citar algumas regiões da cidade.

"Com o desdobro, há necessidade de abrir o asfalto para fazer novas ligações de água e esgoto. O proprietário até paga um valor para recuperar, mas, inevitavelmente, esse tipo de intervenção acaba reduzindo a durabilidade do pavimento, que vai precisar de recape mais cedo do que o previsto", analisa outra fonte consultada.

Se a manutenção de milhares de quadras de Bauru dependerá, por enquanto, exclusivamente da capacidade de execução de serviços de tapa-buracos, algumas centenas de vias ainda esperam pelo tão sonhado asfalto. É o caso, por exemplo, do Jardim Manchester, de parte da Quinta da Bela Olinda, do Parque Val de Palmas e do Parque Giansante.

Para este último, aliás, houve aprovação de emenda parlamentar do deputado federal Capitão Augusto, no valor de R$ 960 mil, para implantação de sistema de galeria. A posterior instalação de guias, sarjetas e pavimentação das 18 quadras viria de contrapartida do município.

Porém, Marcos Saraiva, secretário de Obras no início do governo Suéllen e atual presidente do DAE, já havia adiantado que a prefeitura não dispõe de recursos para a obra definitiva, orçada em R$ 6 milhões. De forma paliativa, no início do ano, a administração realizou a terraplanagem das ruas de terra do bairro.

Na ocasião, a prefeita afirmou que buscaria recursos junto ao governo estadual, União e novas emendas para complementar o valor necessário. O Executivo diz que também poderá contar com recursos próprios, mas que isso dependerá da evolução orçamentária nos próximos anos.

OUTRAS REGIÕES

Por meio de nota enviada pela assessoria de comunicação, a prefeitura informou que, até 2024, pretende levar asfalto também para o Jardim Niceia, Jardim Paulista e Jardim Marambá, além de iniciar o projeto para pavimentação do Jardim Manchester.

"Serão buscadas emendas parlamentares, e dentro do possível, usados recursos próprios. No caso específico do Jardim Niceia, ainda não é possível o uso de verbas de emendas parlamentares ou de convênios com Estado e União, pois a área precisa de regularização, o que também vem sendo trabalhado pelo município. Enquanto a área não é regularizada, apenas recursos próprios podem ir para a estrutura do bairro", completa a prefeitura.

Conforme o JC apurou, uma emenda parlamentar também poderá ser utilizada para pavimentar algumas quadras de terra do Parque Val de Palmas. Já na Quinta da Bela Olinda, que foi loteada há mais de 40 anos e até hoje tem grande parte das ruas de terra, há Termo de Ajustamento de Conduta assinado por uma construtora para investimento de R$ 30 milhões em rede de água, esgoto, drenagem, asfalto e iluminação, como contrapartida pela construção de imóveis no local.

No passado, as ruas de paralelepípedo de Bauru foram substituídas por asfalto, porém, as obras deixaram de lado um item importante: o sistema de drenagem das vias. Com o tempo, a falta de entendimento sobre a necessidade de planejamento urbano começou a cobrar uma conta cara.

Sem bocas de lobo em quantidade suficiente e sem galerias de águas pluviais, o pavimento acaba se deteriorando muito mais rapidamente, o que demanda manutenção constante. O prejuízo no longo prazo é tão grande - inclusive pelo risco à vida das pessoas diante de inundações - que, hoje, qualquer rua de terra só pode receber cobertura asfáltica com a devida implantação desta rede, que pode dobrar o custo da obra.

Porém, o acúmulo dos serviços historicamente não feitos continuará gerando problemas por muito tempo, já que a instalação da rede de macro e microdrenagem em todos os pontos necessários da cidade tinha custo estimado de R$ 700 milhões há cinco anos, quando o Plano Municipal de Saneamento Básico foi atualizado. Hoje, o valor pode chegar a R$ 1 bilhão.

Ex-secretário de Obras de Bauru, o engenheiro Ricardo Olivatto aponta que o problema é generalizado, inclusive em ruas extensas como a Rio Branco. A via recebeu recapeamento recente e, segundo ele, deve voltar a apresentar danos no pavimento em curto tempo. "A água precisa ficar o mínimo de tempo possível no pavimento, não pode correr pelo asfalto. Do contrário, o serviço realizado se perde rapidamente", observa.

Se, de forma sistemática, os buracos resultam da economia feita pelo Executivo no passado, eles também são 'obra' de uma estratégia clandestina usada por parte dos munícipes para gastar menos. De acordo com o engenheiro Ricardo Olivatto, em vários imóveis da cidade, é comum encontrar ligações proibidas na rede, que lançam a água da chuva vinda dos quintais e telhados diretamente na rede de esgoto.

Como a tubulação não é dimensionada para receber tamanha pressão, ela pode se romper e dar início a um processo de movimentação do solo que, no fim, dá origem a grandes crateras nas vias. "Minha sugestão é que sejam feitas visitas nas casas para verificação destas conexões clandestinas. Basta jogar um balde de água no ralo da parte externa e ver se ela aparece na frente da casa", frisa.

Outra possibilidade, Olivatto explica, é lançar fumaça (não tóxica) na rede, a partir do poço de visita que fica na via pública, e verificar em quais quintais ela aparece. "O importante é exigir a correção do problema", destaca.



Fonte: JC Net
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