Covid: cruzes na Nações lembram luto de famílias pelas mais de mil vítimas

Cartão postal de Bauru, a avenida Nações Unidas amanheceu, neste sábado (26), com dezenas de cruzes cravadas em seu canteiro central, na altura do Jardim Panorama. O ato teve como objetivo chamar a atenção da população para o luto das famílias das mais de mil vítimas da Covid-19 na cidade. A ação foi organizada por um grupo intitulado Movimento Bauru Pela Vida, que reúne aproximadamente 20 participantes. São pessoas que perderam familiares ou amigos para a doença e resolveram se unir para cobrar mais conscientização da população, além de mais ações do poder público para conter a retransmissão do vírus.

A ação com tom de protesto ocorreu um dia após o Parque Vitória Régia também virar palco de tributos, com velas acesas em homenagem às vidas que se apagaram também por causa da Covid-19 no município. Apesar da semelhança, os dois atos foram conduzidos por grupos diferentes e sem relação entre si.

As mais de 200 cruzes com nomes de vítimas ou inscrições como "mãe", "vó", pai", "tia", "prima", meu amor", foram cravadas na altura da quadra 28 da avenida Nações Unidas, por volta das 6h30 deste sábado (26). A expectativa do grupo era de que a intervenção permanecesse por tempo indeterminado no local, mas, no início da noite, todas as cruzes foram derrubadas e algumas quebradas. As faixas também foram arrancadas e rasgadas.

PESAR

Em luto por uma prima que morreu há duas semanas em decorrência da Covid-19, Alcides Mendonça, 57 anos, representante do Movimento Bauru Pela Vida, conta que o grupo se conheceu por meio das redes sociais e se uniu há 3 meses, aproximadamente. O ato na Nações foi programado há duas semanas.

"As pessoas que morreram não são apenas números. Eram pais, mães, avós, tios, primos, amigos, amores. E, infelizmente, muita gente só toma consciência quando fica doente e grave ou quando perde alguém próximo. Então, nosso papel como cidadão é alertar e é o que estamos tentando fazer, porque a situação chegou a um ponto insustentável em Bauru. A Saúde está em colapso e as pessoas continuam fazendo festas e não usando máscaras", acrescenta Mendonça.

MANIFESTO

Segundo ele, este foi o primeiro ato público do Movimento Bauru pela Vida, que, além de cravar as cruzes na Nações Unidas, também lançou um manifesto, nas redes sociais, em repúdio à condução da pandemia na cidade.

"Estamos em colapso hospitalar há 158 dias, com UPAs e hospitais lotados, escassez de médicos plantonistas e deficiências graves na estrutura de atendimento aos pacientes. Há pessoas agonizando e morrendo nos corredores das unidades de Saúde, enquanto providências deixam de ser tomadas para coibir, de maneira efetiva, a propagação do vírus", cita o manifesto.

POSICIONAMENTO

"A Prefeitura de Bauru respeita toda e qualquer manifestação pacífica e se solidariza com as famílias e amigos das vítimas", informou em nota a assessoria de imprensa. No texto, o município destacou que segue com ações de enfrentamento da pandemia, tanto para dar suporte aos casos, que aumentaram em todo o estado de São Paulo e no País nesta 'terceira onda', como para evitar novos casos. "Entre as medidas, estão os leitos do PAC, e mais recentemente, leitos na UPA Geisel/Redentor, além do custeio integral de dez leitos de UTI no HC há mais de dois meses. Bauru mantém ainda três UBSs para atendimento de casos suspeitos ou confirmados", informa.

Consta ainda na nota que o município também mantém a fiscalização para coibir irregularidades como festas clandestinas e aglomerações e que ainda vem ampliando a vacinação conforme o recebimento de doses.