Depois de muitas perdas e desprezo, assisense bissexual mudou sua história
O dia 17 de maio é conhecido por representar a data internacional de luta contra a LGBTfobia. Apesar de todo esforço dessas pessoas que buscam respeito tanto na vida pessoal, quanto profissional, ainda há aqueles que insistem em ofender e humilhar quem apenas quer ser livre.
O jovem assisense Thiago Colzini, de 22 anos, conheceu o preconceito ainda criança. Vindo de família em que a religião sempre foi levada a sério e os pais eram da liderança da igreja, o menino até então com três para quatro anos era proibido de participar dos teatros da comunidade, pelo fato de apresentar "trejeitos", segundo era comentado pelos participantes.
Desde pequeno, Thiago sempre foi muito apegado à sua irmã mais velha Milene e sempre gostou de brincar com ela. Devido à religião e seu posicionamento na igreja, o pai, Nicomedes, era contra e sempre escutava piadas na roda de amigos pelo jeito que o filho se portava. O resultado de tudo isso era apanhar em casa.
"Meu pai me batia muito. Devido ao fato de eu ser próximo e gostar das brincadeiras da minha irmã, ele não aceitava isso. Os amigos dele faziam muita piada sobre mim e isso fazia com que ele não sentisse um carinho de pai e filho", explicou Thiago em entrevista ao Portal AssisCity.
A irmã do jovem faleceu em 2011, fato que o abalou por ela ser a única pessoa com quem ele era confidente e que iria estar ao lado dele no momento em que ele se assumisse para a família.
"Mesmo que meus pais desconfiassem, eles não tinham certeza de nada e achavam que era uma fase. Minha irmã sabia e ela falava que quando fosse meu momento de contar para eles, ela estaria do meu lado e me daria todo apoio", disse o jovem que ainda se emociona ao relembrar da irmã.
Após esse momento, entrou em um processo de não se aceitar e se perguntar o que ele era e se seu destino seria o inferno.
"Eu ouvia palavras que uma pessoa afeminada estava condenada e que se qualquer um se assumisse iria para o inferno. Isso mexeu muito comigo e iniciou um processo de não me aceitar", relatou Thiago que em suas conversas com Deus pedia para ele deixar de ser o que era.
Um dos fatos marcantes contados por Thiago aconteceu pouco antes do falecimento de seu pai, quando o jovem estava próximo de completar 17 anos.
"Meu pai nunca me chamou de filho ou disse que me amava. Pouco antes dele morrer, ele olhou nos meus olhos e não me chamou pelo meu nome, mas sim de filho. Pela primeira vez na vida ouvi aquilo dele, além de que ele me amava como eu era", relembrou Thiago.
Após alguns anos, a mãe de Thiago foi trabalhar no Paraná e ele ficou em Assis, onde morava sozinho e iniciou os estudos na faculdade de Direito, da Fema, e está no último ano. Nesse período, o jovem começou a trabalhar em uma empresa da cidade e já estava em um relacionamento gay com o namorado João, porém sem que sua mãe soubesse.
Em uma festa da empresa ele apresentou o namorado para sua supervisora. Alguns dias depois algo inesperado aconteceu com ele dentro do ambiente de trabalho.
"Eu havia cometido um erro e minha supervisora disse que era isso que dava trabalhar com viado e sapatão e nisso discuti com ela. Alguns dias depois fui mandado embora por falta de produção. Não tinha mais emprego para arcar com minhas despesas e minha mãe morava fora", contou Thiago que foi acolhido pelos seus sogros em um momento em que os parentes o desprezaram.
Após a volta de sua mãe, aquilo que devia ser um alívio, virou uma espécie de pesadelo. Thiago contou tudo para ela, sobre quem era e sobre seu namoro. A realidade não foi o acolhimento e sim mais uma vez o desprezo e a revolta.
"Depois que me abri com ela, vieram brigas, expulsões de casa e vários desentendimentos", disse Thiago.
Apesar de toda situação, Thiago não esperava ouvir algo que foi dito por sua mãe em setembro do ano passado, curiosamente a última briga entre eles.
"Há exatos oito meses ela disse que preferia que eu tivesse morrido no lugar da minha irmã. Que isso teria sido melhor pra ela e aí teria orgulho de mim", comentou Thiago, que naquele momento não esperava ouvir aquilo e disse que ela só tinha ele no mundo e mais ninguém. Contudo, depois desse fato tudo mudou.
Após alguns dias de muita reflexão, Selma foi até o filho e pediu perdão. Ela disse a Thiago que mesmo sem concordar com o namoro o respeitaria e o amaria.
Com o passar dos meses, o estudante garante que atualmente tudo mudou e ela é uma nova pessoa.
"Hoje ela não sai da casa dos meus sogros, tirou foto comigo segurando a bandeira, briga com qualquer pessoa para me defender e até se afastou da igreja devido às coisas que ouvia", disse Thiago com muito orgulho.
Thiago e sua mãe Selma em foto com a bandeira que representa o movimento LGBTQI+ / Imagem: ARQUIVO PESSOAL
Atualmente, Thiago Colzini finaliza seus estudos na FEMA e trabalha na empresa do pai de seu namorado. Apesar da bissexualidade, o jovem está em um relacionamento gay. Segundo ele, o preconceito ainda ocorre, porém, se esconder é o pior remédio.
"Cada um tem seu tempo mas se esconder e ter medo infelizmente é uma consequência. As pessoas devem saber que ninguém está sozinho, mesmo nas horas que o medo fala mais alto. Quero dizer também que Deus não é aquilo que todos passam, ele é amor e nos criou", finalizou o jovem.