A alfabetização de crianças no Brasil ocorre, geralmente, por volta dos 7 anos, mas para Aparecido Donizeti Agostinho este processo se antecipou de forma surpreendente. Foi ao frequentar com sua mãe o Mobral (um órgão do governo brasileiro da década de 60 que ajudava na alfabetização de pessoas com mais de 15 anos) que o garoto do sítio passou a ser visto como um prodígio da família, após começar a ler e escrever, de repente, com apenas 5 anos. Aos 17, Agostinho já cursava medicina na Unesp de Botucatu, onde também se tornou mestre e doutor em cirurgia com ênfase na área de urologia.
Hoje, aos 55 anos, ele é o mais novo presidente da Unimed Bauru, cooperativa que reúne mais de 800 médicos e é considerada uma das maiores do País.
Neto de imigrantes italianos e filho dos sitiantes Agostinho Agostinho (em memória) e Enedina Candido dos Santos (em memória), ele nasceu em Jaboticabal, em 2 de julho de 1965. Na infância e adolescência, viveu a roça de perto e ajudava a família nas tarefas de arar a terra e colher café, algodão, arroz e milho.
Trabalho braçal, contudo, que não o desanimou nos estudos. Elogiado pelas habilidades demonstradas aos professores no Mobral, Aparecido foi aceito dois anos mais cedo na escola. De família simples, concluiu os estudos com a ajuda de bolsas e do irmão mais velho, Vicente, seu apoio na época de faculdade.
Conheceu a esposa, Maria Aparecida Barros Agostinho, em um ponto de carona e teve a primeira filha, Camila, aos 24 anos. O mais novo, Victor, nasceu cinco anos depois.
Cooperado da Unimed desde a década de 90, reside em Bauru desde 2001 e não pensa em deixar a cidade. Em 2015, passou a ser membro da diretoria da cooperativa, que, agora, terá a missão de presidir.
JC - Como foi a sua história com o Mobral?
Agostinho - Minha mãe me levava como companhia e eu era muito curioso, gostava de estudar. Só havia adultos na sala e o professor brincava que eu era o melhor aluno. Acho que isso me incentivou. Minha mãe tinha orgulho. O professor perguntava e eu era o primeiro a erguer a mão para responder. Foi até meio pitoresco na época, porque eu virei o xodó da turma.
JC - E a medicina, quando entrou para sua vida? Algo ou alguém o inspirou?
Agostinho - Desde os meus 3 anos eu falava em ser médico. Antes mesmo de saber o que era isso. Não tive nenhuma influência. Sou o único médico na família. Éramos muito simples e estudar Medicina, especialmente naquela época, não era algo comum para pessoas como nós. Meu pai sempre dizia que seria difícil. Então, acho que eu quis, porque sabia que seria desafiador.
JC - Quais suas principais conquistas profissionais a partir daí?
Agostinho - Quando entrei na faculdade, me veio o desejo de ser professor, de multiplicar o conhecimento. Eu terminei a residência em 1993 e, no mesmo ano, fui o primeiro colocado em um concurso nacional da Sociedade Brasileira de Urologia na obtenção do título de especialista. Foi algo que me impulsionou e, em 1995, eu já dava aulas oficialmente na pós-graduação da Unesp. Dei aulas lá até 2018. Fui também chefe dos transplantes em Botucatu, me dediquei às cirurgias de câncer e à área de uroginecologia. Atualmente, ministro aulas na Uninove aqui em Bauru. E fiz pós-graduação MBA em gestão, o que, agora, me ajudará na presidência da Unimed.
JC- À frente da Unimed, o que espera, qual será a marca da sua gestão?
Agostinho - O maior desafio de toda e qualquer operadora, hoje, é controlar os custos em Saúde, que são crescentes e tendem a ultrapassar os valores da inflação. Está cada vez mais difícil, por causa da incorporação de novas tecnologias, novos medicamentos. Tornar o serviço mais eficiente sem fazer com que isso pese no bolso do cliente não é tarefa fácil. Além disso, uma das metas da minha gestão na Unimed é criar, anexo à radioterapia, um Centro de Oncologia dentro do hospital que permita, inclusive, o transplante de medula óssea.
JC - Como tem sido trabalhar neste período pandêmico?
Agostinho - Não está fácil para ninguém. E, na Saúde, há um impacto severo, os hospitais estão pressionados. Na pandemia, as outras doenças foram deixadas de serem tratadas no melhor momento, porque ainda há um receio de procura por serviços médicos. As consequências disso podem ser muito negativas, porque doenças cardíacas, neurológicas, oncológicas, por exemplo, têm um tempo mais adequado de tratamento.
JC - O que o doutor Agostinho ensinou ao Aparecido?
Agostinho - A medicina me ensinou a ser determinado, mais tolerante com falhas, a ter esperança e a estimular as pessoas. Impactar na qualidade de vida de alguém é gratificante, dá um grande prazer. Atuar como médico me trouxe também mais sensibilidade com a dor do próximo.
JC - Quem é o Aparecido por trás da figura do médico?
Agostinho - Sou um cara simples, que gosta de uma boa polenta com frango ou nhoque em um almoço de domingo. Um adorador de rock, um apreciador de vinhos, um cara que, antes da pandemia, gostava de reunir a família para churrasco, que jogava futebol society com amigos. Sou também pai da Amora [risos], nossa mascote, uma vira lata adotada. Outra coisa é que adoro viajar, já conheci a Europa, os Estados Unidos e alguns lugares da América do Sul. Agora, a meta é conhecer a África e a Ásia.
JC - Aspirações futuras?
Agostinho - Quero me especializar e fazer estágios fora do Brasil nas áreas de uroginecologia e andrologia.
"O professor perguntava e eu era o primeiro a erguer a mão para responder"
"A medicina me ensinou a ser determinado, mais tolerante com falhas, a ter esperança e a estimular as pessoas"
"Uma das metas da minha gestão na Unimed é criar um Centro de Oncologia dentro do hospital que permita o transplante de medula óssea"