O pior dia da vida da caminhoneira Danieli de Souza Tenório, de 38 anos, se configurou no momento em que a acusaram de ficar com o emprego de um pai de família. O machismo intrínseco neste comentário a abalou, mas, ao mesmo tempo, deu forças para que se tornasse ainda mais empoderada. Atualmente, ela exerce o cargo de instrutora de Operações de Máquinas Florestais da Bracell, em Lençóis Paulista, liderando uma frota composta por 45 motoristas. Todos homens. A caminhoneira vive em Bauru com o marido e a filha. No Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta segunda-feira (8), a profissional reforça a necessidade de combater qualquer tipo de preconceito.
Natural de Arujá, em São Paulo, Danieli cresceu em Itaquá, no mesmo Estado, onde começou a trabalhar como instrutora de autoescola em todas as categorias: da A até a E. Em 2013, ela se mudou para Valparaíso, no Interior Paulista, depois que o seu marido recebeu uma proposta de emprego. "Não demorou muito para que eu conseguisse um trabalho de caminhoneira em uma usina e lá permaneci por cerca de oito anos", descreve.
Na empresa, Danieli trabalhou com outros 200 homens. "Não deixei o machismo, que se escondia por trás de brincadeiras supostamente inocentes, me desanimar e, aos poucos, o pessoal entendeu que eu também tinha uma família para sustentar", comenta.
A profissional acredita que, nesta época, conseguiu quebrar um ou outro paradigma. "Alguns homens até passaram a enxergar as mulheres com quem conviviam dentro de casa de uma forma diferente", acrescenta.
Ainda segundo Danieli, que se formou em Ciências Biológicas, mas optou por seguir a carreira do pai, outras mulheres também estranhavam a sua escolha.
Tanto que, quando a usina onde ela trabalhava saiu da cidade e outra a substituiu, a caminhoneira se inscreveu para a seleção de motoristas. Em meio a uma sala lotada de homens, a candidata era a única mulher e a coordenadora de RH pensou que Danieli almejava um cargo administrativo. A profissional acabou contratada como instrutora de veículos pesados.
CHEGOU À REGIÃO
A caminhoneira exerceu o cargo até setembro de 2020, quando conseguiu o emprego de instrutora de Operações de Máquinas Florestais junto à fábrica de celulose da Bracell, em Lençóis Paulista. Desde então, ela, o marido e a filha vivem em Bauru.
Para Danieli, a aceitação ainda é o seu maior desafio, mas o fato de amar o que faz a impede de desistir da profissão. "Eu costumo encarar o preconceito como uma lição de vida: não preciso ficar parada no tempo como este tipo de pessoa", observa.
Inclusive, a profissional continua estudando. Atualmente, ela faz um MBA em Gestão de Projetos.
De acordo com a caminhoneira, não existem barreiras para as mulheres, desde que tenham vontade para superá-las. "Biologicamente, nós podemos até ter uma força física inferior em relação à dos homens, mas sempre conseguimos dar o nosso jeitinho", finaliza.