Considerada a variante com maior grau de preocupação entre especialistas, a P1, também chamada de cepa de Manaus ou amazonense, foi apontada em pesquisa de amostragem do Instituto Adolfo Lutz como a linhagem da Covid-19 predominante em Bauru e região. Inclusive, entre sete áreas analisadas, o Departamento Regional de Saúde-6 (que compreende Bauru e outras 67 cidades) foi o que confirmou mais amostras proporcionais da P1.
O estudo, ao qual o JC teve acesso, conta com um total de 766 amostras positivas para a Covid-19 e com relevância clínica que foram enviadas por sete DRSs para o Lutz na Capital. O quantitativo bauruense não foi divulgado, apenas o percentual confirmando a cepa de Manaus em 39,47% dos sequenciamentos relativos ao DRS-6.
A variante britânica (B117), também elencada como preocupante em todo o mundo, teve confirmação em 1,32% das amostras. A segunda linhagem da SARS-CoV-2 mais presente na área do DRS-6 é a P2, atestada em 38,16% das amostras (veja mais no quadro ao lado). Contudo, esta última variante, assim como as outras três brasileiras circulantes em Bauru, não teria forte potencial de alteração do cenário epidemiológico, como a amazonense e a do Reino Unido.
MONITORAMENTO
O documento indica que o estudo tem como propósito auxiliar no monitoramento das linhagens da SARS-CoV-2 para ajudar na tomada de ações assertivas pelo poder público, "identificando municípios que apresentem um risco alto de casos e óbitos em comparação aos municípios vizinhos".
O sequenciamento genético das chamadas "variantes de atenção" foi aliado a um trabalho de vigilância epidemiológica para investigação dos casos. "A tendência era de envio das amostras de maior relevância clínica, como a dos pacientes mais graves", comenta Carlos Magno Fortaleza, infectologista do Comitê de Contingência do Coronavírus em São Paulo.
O Estado possui 17 DRSs. Os que enviaram materiais para o estudo e também já obtiveram resultados, além de Bauru, foram os departamentos da Grande São Paulo (DRS-1), da Baixada Santista (DRS-4), de Campinas (DRS-7), de Marília (DRS-9), de Presidente Prudente (DRS-11) e de Taubaté (DRS-17), que constam no documento.
Nenhum deles apresentou, na amostragem, tanta variante P1 quanto Bauru. O que mais se aproximou foi o DRS de Presidente Prudente, que possuía 15,69% da cepa amazonense em meio à amostragem. Marília, por exemplo, apresentou 2,33% da P1 no sequenciamento.
RELEVÂNCIA
Mas o que significa ter a variante de Manaus como predominante na amostragem? O médico Carlos Fortaleza explica que o mundo reconhece três cepas como mais preocupantes: a própria amazonense, a britânica e a sul-africana (ainda não confirmada em Bauru). E, embora não haja comprovação científica de que a P1 é mais agressiva, há indícios de maior capacidade de infecção, além de uma percepção médica de que casos mais graves e em pessoas mais jovens têm ocorrido com a sua disseminação.
"O que sabemos é que a P1 está substituindo a P2, o que mostra que ela é mais transmissível. Outro fato é que nunca morreu tanta gente. E isso está temporalmente sendo associado ao predomínio da P1", comenta.
Segundo Fortaleza, contudo, Bauru não é mais considerada uma das cidades com pior cenário epidemiológico no Estado. "Isso era há duas semanas. Agora, está difícil dizer, porque houve um nivelamento da situação em todo o Estado", analisa.
"Mas, arrisco a dizer que não precisaríamos ter a P1 predominante para ter o cenário grave que temos hoje. A variante britânica, por exemplo, não foi causa da situação ruim na Europa. Ela surgiu em meio à situação ruim, assim como a P1 em Manaus. É muito mais fácil surgirem variantes quando a transmissão é grande. A P1 pode ser mais grave e ter acelerado a pandemia? Sim, mas a razão do colapso, na minha opinião, foi o desleixo das pessoas e a falta do distanciamento social", finaliza.
Em 4 março, a Prefeitura de Bauru confirmou a presença das variantes de Manaus e britânica na cidade. Das 50 amostras ao laboratório do Adolfo Lutz, na ocasião, três positivaram para a cepa de Manaus e uma delas para a britânica.
Outras quatro linhagens brasileiras também foram encontradas em 22 amostras, conforme o JC noticiou.