Apesar de ambos viverem em Bauru, o publicitário aposentado José Francisco Sertori, de 61 anos, nunca havia encontrado, pelas ruas da Cidade Sem Limites, a professora aposentada Sandra Regina Bombini Furquim Leite, de 67. Eles ficaram frente a frente no último dia 6, mas na sala de espera do Hospital do Rim, em São Paulo. Lá, os dois descobriram que receberiam os rins do mesmo doador. A conexão se tornou tão forte que eles decidiram manter contato, principalmente na hora de trocar experiências sobre o processo de recuperação do transplante, realizado via SUS.
Natural de Ribeirão Preto, mas morador de Bauru há mais de três décadas, José Francisco Sertori descobriu a Doença Renal Crônica (DRC) quando resolveu fazer um exame de rotina. "A minha creatinina estava muito alta, fato que me levou a dar início ao tratamento", relata.
Em maio do ano passado, o estado de saúde de Sertori piorou e ele passou a depender da hemodiálise para sobreviver. "Eu não tinha muita esperança em conseguir um rim, porque pensei que eles dariam prioridade para as pessoas mais novas", confessa.
Mesmo assim, o paciente entrou na listagem pelo Hospital das Clínicas (HC) de Botucatu. "No início do mês passado, eles ligaram falando que o transplante ocorreria no dia seguinte no Hospital do Rim, em São Paulo, porque o HC também atende a pacientes com Covid-19 e resolveu dar uma diminuída na realização nesse tipo de cirurgia", comenta.
Na triagem, Sertori conheceu pessoas de várias cidades paulistas, incluindo Sandra Regina Bombini Furquim Leite, também residente em Bauru. "O médico nos avisou que receberíamos os rins do mesmo doador, que era um jovem de 25 anos que faleceu em decorrência de um acidente de trânsito", relata o paciente.
COMO IRMÃOS
José Sertori conta que, desde então, nutre um carinho especial por Sandra Leite. Natural de Bauru, a professora aposentada afirma que o sentimento é recíproco. "Agora, um tem ajudado o outro nessa fase de recuperação", acrescenta a professora aposentada.
Leite, por sua vez, descobriu ser pré-diabética durante uma campanha de conscientização sobre o assunto, mas não buscou acompanhamento médico por dez anos. "Só quando eu comecei a fazer hemodiálise que decidi cuidar melhor da minha saúde", explica.
A bauruense jamais imaginou que dividiria os rins do mesmo doador com outro morador da cidade. "Nós ficamos amigos na sala de espera e, algumas horas depois, nos tornamos irmãos de rim", comenta.
Além dessa coincidência, os pacientes compartilham o sentimento de esperança em dias melhores e alertam sobre a importância de doar os órgãos. "Um único ser humano salvou as nossas vidas e a de muitas outras pessoas", finaliza Sandra Leite.
De acordo com a médica de José Sertori, a nefrologista Tricya Nunes Vieira Brueloni, a fila de espera por um transplante é nacional, mas costuma priorizar os receptores que estão mais próximos dos doadores, afinal, os órgãos têm um tempo de vida curto e uma viagem muito longa pode deixá-los inviáveis.
Ainda assim, ela reconhece que a situação vivida por José Sertori e Sandra Bombini Furquim Leite não é algo comum. "As chances de dois moradores de determinada cidade receberem os rins da mesma pessoa são bem baixas".