O empresário brasileiro João Henrique Pinheiro, conhecido por sua candidatura à Prefeitura de Marília nas eleições de 2024, foi preso no fim de maio ao desembarcar na Espanha. Ele era procurado internacionalmente e figurava na lista vermelha da Interpol, acusado de aplicar um golpe milionário em produtores de cana-de-açúcar da cidade de Bermejo, na Bolívia.
A acusação parte de representantes da Cicasa (Complexo Industrial Canavieiro) e da Fecasur, federação de produtores locais. Segundo eles, Pinheiro teria prometido construir uma usina capaz de processar 2.500 toneladas de cana por dia, mas o projeto nunca saiu do papel. Os produtores bolivianos relatam prejuízos de aproximadamente R$ 3,5 milhões (US$ 684 mil), transferidos a contas no exterior, após assinatura de contratos públicos e envio de um engenheiro brasileiro para o canteiro de obras.
Em 2019, o projeto da Cicasa foi aprovado pelo governo boliviano com aval do Ministério do Desenvolvimento Rural e Terras (MDRyT), prevendo uso de mais de 10 mil hectares para cultivo. Estudo técnico estimava investimento total de US$ 12 milhões. Com apoio de mais de mil produtores, o projeto foi visto como a redenção econômica para uma das regiões mais pobres do país. No entanto, o sonho virou pesadelo.
Diante de atrasos na entrega do maquinário e desconfianças sobre a origem dos equipamentos, uma comissão da Cicasa viajou ao Brasil e descobriu que os bens apresentados por Pinheiro não pertenciam a ele. A partir daí, foi aberto um processo criminal por fraude qualificada na cidade de Tarija, Bolívia.
Apesar de manter um perfil público elevado — e até lançar candidatura em Marília — Pinheiro não foi localizado para responder à Justiça brasileira, o que levou à emissão de mandado de captura internacional e inclusão na lista da Interpol em setembro de 2024.
A prisão ocorreu em 27 de maio de 2025, em Madri, e gerou novo pedido formal de extradição por parte das autoridades bolivianas.
Fuga, silêncio e dívidas no Brasil
Enquanto a Bolívia acompanhava o desenrolar do caso, Pinheiro desapareceu do cenário público no Brasil. Deixou o país em maio de 2024 com destino à Espanha e, desde então, não retornou. A notícia de sua inclusão na lista vermelha da Interpol só veio a público meses depois, alimentando especulações sobre seu paradeiro.
Fontes chegaram a negar a detenção na Europa, incluindo seu advogado no Brasil, Luiz Eduardo Gaio Júnior, e o próprio Ministério das Relações Exteriores brasileiro. Até o momento, não há mandado de prisão válido contra Pinheiro em território nacional.
Além das pendências internacionais, o empresário enfrenta processos na Justiça civil em Marília, incluindo uma ação de despejo por inadimplência em um imóvel no aeroporto da cidade. A dívida, contraída por sua empresa Sugar Brazil, ultrapassa R$ 88 mil.
Há também outras denúncias contra João Pinheiro envolvendo negociações onde o "empresário" teria recebido o dinheiro, mas não teria entregado o produto.