Além da dor da perda do ente querido, um drama desde o atendimento até o enterro. É o que relata a família de Vera Lúcia Souza, de 47 anos, que pesava 200 quilos e morreu no último domingo (28), com suspeita de Covid-19. A mulher tinha diversas outras comorbidades e havia sido internada no Posto Avançado Covid (PAC) no dia anterior (27).
Nora de Vera, a cabeleireira Jaine Rosa dos Santos, de 26, conta que ela começou a sentir os sintomas da doença na sexta-feira (26), mas só foi levada até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Redentor, perto da casa onde vive com cinco filhos e um neto, no dia seguinte. "Antes, ela estava com febre e calafrios, mas o surgimento da falta de ar fez com que nós chamássemos o Corpo de Bombeiros para transportá-la até lá", acrescenta.
O médico que a atendeu, segundo Jaine, teria dito que a unidade não testava para a Covid-19 aos finais de semana e a mulher acabou encaminhada ao PAC. "No outro hospital, eles só fizeram o exame depois que a minha sogra faleceu, às 16h30 de domingo (28), mas o resultado não saiu até agora", critica.
Ainda de acordo com a cabeleireira, Vera precisava de uma tomografia, mas ficou sem o exame, porque o equipamento só comportava uma pessoa de, no máximo, 120 quilos. "Há oito anos, ela entrou em depressão depois de perder um filho e nós até tentamos uma bariátrica pelo SUS, que nunca a chamou para fazer a cirurgia", complementa.
URNA ESPECIAL
Como a família é bastante humilde, a prefeitura precisou bancar o enterro e o caixão especial, que saiu de Cabrália Paulista. Por isso, o corpo ficou no PAC até as 16h de ontem. "A prefeitura deveria ter se preparado melhor para ajudar aqueles pacientes que têm obesidade mórbida", diz.
Em nota, a assessoria de comunicação do município, através da Secretaria Municipal de Saúde, informa que, logo após a morte da paciente, foram tomadas diversas providências.
O Setor de Funerária da Emdurb, por exemplo, cotou a urna funerária para a mulher. A aquisição se deu em Cabrália Paulista, onde há uma das poucas empresas que trabalham com caixões nestas dimensões e a pronta entrega.
Ainda conforme a nota, "por se tratar de família de baixa renda, a Prefeitura de Bauru providenciou o enterro social da paciente na tarde desta segunda-feira (1)".
Quanto às reclamações sobre a conduta dos médicos, o poder público alega que "as mesmas deverão ser oficializadas no Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU) e na Ouvidoria da Secretaria de Saúde".