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21/03/2021

O dia em que a terra parou

Conhecido mundialmente por ser um músico que ultrapassa a curva do "normal" em suas composições, o pai do rock brasileiro Raul Seixas, que morreu, precocemente, em agosto de 89, nem em seus sonhos mais distantes imaginaria que uma de suas letras, escrita nos anos 70, tornar-se-ia a realidade da população mundial em 2020, e, 2021.

Divulgação Internet - Raul Seixas
Raul Seixas


O ano era 1977, o Brasil enfrentava seu 13º ano de Ditadura Militar, os estudantes decidiram enfrentar a repressão e, na música, o criador da Sociedade Alternativa, lançava a música 'O dia em que a terra parou', nome inspirado em um filme de ficção científica do ano de 1951. Sua letra, uma crítica subjetiva ao momento político pelo qual o país passava.

"O momento era de tensão, uma crítica explícita poderia trazer sérios problemas ao Raul, assim como aconteceu com outros músicos que foram exilados em outros países. Ele era um grande compositor que usava muitas metáforas em suas letras e nessa não foi diferente", comentou a historiadora Carolina Tedesque em entrevista exclusiva ao Portal AssisCity, para explicar essas relações da música com a pandemia de COVID-19.

Divulgação - Carolina Tedesque, historiadora
Carolina Tedesque, historiadora


Logo no início da letra, é dito que ele teve um "sonho de sonhador", e que por ser tão maluco sonhou com algo que seria praticamente impossível de acontecer, um dia em que a terra parasse. Isso vale muito tanto pelo momento que o Brasil passava quanto também pelo que o mundo enfrentava, que era a Guerra Fria, entre Estados Unidos e União Soviética.

"Essa relação naquele tempo polarizado seria algo do tipo 'para o mundo que quero descer', que é o que enfrentamos hoje em dia e isso fica claro ao longo da letra", afirmou a historiadora.

Ao longo dos trechos que dão sequência à música, Raul buscou fazer comparações de classes sociais e profissões, como aluno e professor, dona de casa e padeiro, que apesar de possíveis condições econômicas, tão diferentes, a partir do momento que ninguém saísse de casa nesse dia, fosse ficar claro que todas as pessoas dependem de outras no seu dia-a-dia.

"Isso é o que enfrentamos na pandemia, por ser uma doença que não tem classe social, pega tanto o rico quanto o pobre. De um ano pra cá ficou claro a importância de profissões que antes eram ignoradas por muitos. Só que, atualmente, a terra parou para muitos, mas outros continuaram em seus trabalhos para que não parasse totalmente", comentou Carolina.



Outra importante relação feita por Raul foi a da crise e ostentação, assunto tão debatido nos últimos meses, que é o fato da real necessidade de compra, principalmente, quando lojas fazem promoções jamais vistas.

"Ele fala que o ladrão não saiu para roubar, pois não teria onde gastar. Se atualmente estamos sem eventos e festas, qual a necessidade de comprar uma roupa cara se poderia guardar para uma emergência necessária? Ele também agrega a uma discussão pós-pandemia, de como será o comportamento da sociedade em relação ao próprio dinheiro", assunto que segundo Carolina será interessante de ser observado daqui algum tempo.

No final da música, uma das últimas relações a serem abordadas é a questão das pessoas que nesses momentos buscam um refúgio na religião, além da maneira de como os professores vão explicar esse momento para os alunos, uma vez que todos vivem um dos mais importantes fatos da história.

"Ao mesmo tempo em que a pandemia atrai a pessoa para um refúgio na religião, ela também deixa outras com dúvidas do motivo de Deus querer aquilo para a sociedade ou para sua família, além do simples fato de que não adianta nada procurar a igreja, rezar se não usar máscara, lavar as mãos e respeitar o distanciamento", afirmou Carolina.

Um ato falho em toda essa "previsão" é quando Raul Seixas cita que "os médicos não saíram para trabalhar". Nesse ponto, o Maluco Beleza errou, uma vez que todo setor da saúde se tornou essencial nesse período que o mundo vive.

A análise feita pela historiadora encerra-se na última parte da música, quando o compositor diz que acorda desse sonho. Segundo ela, apesar de não ser um sonho, aquilo acontecia e se tornou um momento de conformismo das pessoas e tentar entender os próximos passos.

"Quando ele fala que acordou, não necessariamente de um sonho, fica a ideia que temos hoje do conformismo, de tentar entender o que vai acontecer daqui pra frente", finalizou Carolina, que por coincidência do destino, no momento em que o corpo de Raul Seixas era retirado de seu apartamento em São Paulo, em 21 de agosto de 1989, ela passava na frente do local e viu a aglomeração causada por imprensa e fãs.


Fonte: AssisCity
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