Um mês antes de Bauru ser emancipada como município, ou seja, quando ainda era distrito de Lençóis Paulista, a maçonaria já marcava sua presença por aqui. Em 1 de julho de 1986, foi fundada a primeira loja maçônica, a Arquitetos de Ormuzd, onde fica, hoje, a quadra 6 da avenida Rodrigues Alves, no Centro. Justamente por toda essa tradição, liderar essa loja - a primeira bauruense e mais antiga até que a própria cidade - é uma missão encarada com grande honra e responsabilidade por Francisco Antonio Ramos de Oliveira. Ele é o venerável mestre (presidente) do local desde 2019.
Paralelo à intensa doação à maçonaria nos últimos 12 anos, Francisco também dedica grande parte de seus 62 anos de vida à engenharia elétrica. Graduado pela Unesp desde 1982, foi funcionário da CPFL por 32 anos e se aposentou em 2017. Contudo, a paixão pela eletricidade é tão grande que, atualmente, continua atuando como diretor na própria empresa de consultoria de energia, em Bauru, e é diretor do Sindicato dos Engenheiros da cidade.
Além da dedicação à maçonaria e à profissão, Francisco é muito ligado à família. Ao falar dos parentes, fica claro o amor pela filha, Clara Penteado Ramos de Oliveira, pela esposa, Sueli Penteado Ramos de Oliveira, e pelos pais já falecidos, Antônio Ramos de Oliveira e Nair Sau de Oliveira. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Jornal da Cidade - Como o senhor conheceu a maçonaria?
Francisco Ramos - Através de amigos que me convidaram, em 2009. Entrei porque, assim, teria mais formas de compartilhar, ser fraterno. Antes de ser venerável mestre da loja maçônica Arquitetos de Ormuzd, fui secretário da loja durante anos e pude me relacionar com diversas autoridades maçônicas. Isso, com certeza, me gabaritou para ser eleito duas vezes. Este mês de junho, inclusive, é meu último de mandato.
JC - É uma das lojas mais antigas, né?
Francisco - É mais velha até mesmo que Bauru e foi importante em vários momentos. Na pandemia de gripe espanhola, em 1918, foi hospital de campanha e braço direito da Beneficência Portuguesa. Em 1932, participou da arregimentação de pessoas para a Revolução. Me sinto muito honrado por este período como venerável mestre. As pessoas que sentaram naquela cadeira antes de mim foram grandiosas e eu as respeito e admiro muito.
JC - Como o senhor avalia seu trabalho nesses dois últimos anos?
Francisco - Consegui manter a loja unida, mesmo na pandemia. Como é um ambiente fechado e muitos dos nossos frequentadores são idosos, não fazemos sessões. Então, desde a terceira segunda-feira de quarentena, temos reuniões virtuais. Além disso, fizemos muitas campanhas solidárias. Há quatro meses, estamos arrecadando em grande volume de doações para entidades que atendem famílias em situação de vulnerabilidade em Bauru. Também ajudamos de diversas formas, não só com dinheiro. Às vezes, ajudamos apenas com uma palavra, e também organizamos ações nesse sentido.
JC - O que o senhor gostaria de dizer sobre a maçonaria para as pessoas?
Francisco - Que não é templo, nem religião. É uma sociedade que busca o desenvolvimento espiritual. Você precisa ter uma religião e acreditar em Deus para entrar, não pode ser ateu. Eu mesmo sou católico. E ela tem alguns pilares, como a fraternidade e a tolerância. A maçonaria não é um reformatório. Ninguém entra ruim e sai bom. Ela pega pessoas boas e as melhora ainda mais. Ali, nós convivemos com gente de todo tipo, porque nos toleramos e respeitamos.
JC - Além da maçonaria, ao que mais o senhor se dedica?
Francisco - Ao meu trabalho. Sou engenheiro elétrico e já fiz várias pós-graduações na área. Escolhi essa carreira porque sempre gostei de matemática e de eletricidade. Acho a energia elétrica fascinante e nada funcionaria sem ela. Dedico minha vida a isso e continuo na luta. É igual avião: se parar, cai (risos).
JC - O senhor tem uma filha, né? Acha que ela vai seguir seus passos?
Francisco - Parece que sim. A Clara estuda no CTI (Colégio Técnico Industrial, da Unesp) e faz o curso de Elétrica, o mesmo que fiz entre 1975 e 1977. Ela também gosta bastante de energia e eletricidade, assim como eu.
JC - Agora, voltando para o começo. Como foi sua infância?
Francisco - Cresci no bairro Chácara das Flores. Meu pai, Antônio, sempre foi doente, tinha diabetes, mas era muito espiritualizado. Minha mãe, Nair, era espetacular. Cuidava do meu pai, da casa, dos dois filhos e ainda trabalhava. E minha família toda é católica. Então, construí uma forte relação com a igreja. Até dei o nome da minha filha, Clara, em homenagem à Santa Clara.
JC - E quais suas grandes paixões?
Francisco - Minha família. Faço tudo por eles e para compartilhar nossas alegrias. E minha profissão. Além disso, também sou fissurado por inovação. A Internet, por exemplo, me fascina. E adoro as teorias do Stephen Hawking e do Albert Einstein.