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No Parque Santa Edwirges, em Bauru, existe uma casa simples em formato de 'L' com um amplo quintal, que, há trinta anos, abriga a família de Sônia da Conceição Marques, de 59 anos. Foi ali que ela viveu metade da vida e também será ali que ela passará, pela primeira vez, o Dia das Mães, celebrado neste domingo (9), sem a presença de uma de suas duas filhas, que perdeu a batalha contra a Covid-19 em 8 março deste ano. E, mesmo em meio à dor, é o dom de cuidar que dá forças para ela seguir em frente. Após a tragédia, dona Sônia e o neto Henrique Sígalo de Godoy, de 16 anos, que ainda sofre pela perda da mãe, estreitaram os laços de maternidade e amor.
O caso representa a realidade de muitas famílias. Mães que perderam seus filhos e filhos que perderam suas mães para o coronavírus e que precisam encontrar caminhos para continuar, mesmo diante da tristeza de passar datas especiais como a de hoje sem a presença de seus entes queridos.
A Covid-19 chegou na família da dona Sônia em março deste ano. Ela conta que todos tiveram a doença. Porém, a filha, Shirley Marques Sígalo, de 37 anos, e o marido, Antônio Luiz Sígalo, de 77 anos, apresentaram um quadro grave e precisaram ser internados em UTIs. Ambos não resistiram e morreram em um intervalo de 13 dias. Ela, em 8 de março, sem conseguir um leito intensivo; e ele, no dia 21 do mesmo mês.
Para lidar com a dor da perda, Sônia e Henrique contam que tiram forças do laço que construíram durante toda a vida e que foi fortalecido neste momento. "Eles vieram morar comigo quando meu neto tinha um aninho. Agora, mais do que nunca, ele é meu filho. Eu já cuidava dele para a Shirley trabalhar. Agora, ficamos só nós dois e Deus nesta casa. Tenho muito amor por ele, porque ele praticamente nasceu comigo. E vou continuar cuidando dele como sempre cuidei, para que ele possa crescer e estudar, que ele gosta bastante. Graças a Deus, tenho um neto maravilhoso", relata a dona de casa.
Para Henrique, a mãe, além de sinônimo de exemplo e orgulho, também era o 'remédio' que o fazia dormir. "Sofro de insônia porque sou muito ansioso. Mas, quando minha mãe dormia comigo, ela me acalmava e eu conseguia dormir em paz. Depois que ela se foi, fiquei vários dias sem conseguir dormir", diz o adolescente. Atualmente, é o aconchego da avó que o auxilia nas noites de sono e ainda fortalece a relação deles para lidar com a ausência de Shirley e Antônio. "Ele dormia com ela. Mas, agora, ele dorme comigo, no meu quarto", conta dona Sônia.
SAUDADE
Com os olhos marejados pela saudade, a dona de casa descreve os feitos da filha Shirley, que era líder comunitária, com bastante orgulho. "O asfalto só chegou aqui no Santa Edwirges por causa dela, que era vice-presidente da Associação de Moradores do bairro e sempre lutou pela comunidade e pela família. Ela era exemplar, guerreira, trabalhadora. Era tudo de bom. Tem gente que não acredita nessa doença, mas eu sei o quanto dói. Desejo a todas as mães que sigam com o privilégio de ter os seus filhos", diz.
E, para honrar o legado da filha, afirma que vai dar continuidade nos trabalhos sociais que ela realizava na comunidade e na igreja.
Além da perda, a avó e o neto tiveram de lidar com as dificuldades financeiras, já que a família se sustentava com a aposentadoria de Antônio e com o salário de Shirley. "Pedimos ajuda na igreja e na associação. Enquanto a aposentadoria do meu marido não é convertida em pensão, estamos sobrevivendo de doações. E as pessoas têm nos ajudado muito", conta dona Sônia. "O apoio dos amigos e das pessoas também tem me dado forças para superar a perda da minha mãe", finaliza Henrique, agradecido.
Quem quiser auxiliar a família com "dinheiro para ajudar a quitar as dívidas" ou mesmo com alimentos que não vêm na cesta básica, como carnes, pode falar com Sônia da Conceição pelo celular (14) 99704-2849.
