No auge da pandemia de Covid-19, um fenômeno estranho aconteceu - as pessoas começaram a ter sonhos esquisitos. As preocupações em relação ao isolamento, a entes queridos e à saúde pessoal foram repentinamente misturadas com outros pensamentos, fazendo com que alguns indivíduos acordassem bastante confusos.
Pessoas que vivem sob pressão regular têm mais chance de ter pesadelos. As crianças são particularmente suscetíveis porque seus cérebros ainda estão em desenvolvimento, diz Rachelle Ho, estudante de doutorado na Universidade McMaster, no Canadá.
Embora os pesadelos estejam fortemente ligados a uma série de problemas de saúde mental, alguns sonhos vívidos nos ajudam a processar as emoções do dia anterior, explica Joanne Davis, psicóloga clínica da Universidade de Tulsa, nos EUA.
Entender por que certos sonhos se tornam pesadelos está ajudando a tratar pessoas que passaram por traumas. Psicólogos como Davis estão começando a desvendar as relações entre nossos sonhos, distúrbios psicológicos e sua importância em nos manter emocionalmente estáveis quando estamos saudáveis.
Enquanto dormimos, organizamos e arquivamos nossas memórias do dia anterior e tiramos um pouco o pó das memórias mais antigas e as reorganizamos.
Essas memórias carregadas de emoção se tornam então o tema de nossos sonhos. Um sonho ruim pode ajudar as pessoas na vida real. A hipótese "dormir para esquecer, dormir para lembrar" sugere que o sono fortalece as memórias emocionais, armazenando-as com segurança, e também ajuda a atenuar nossas reações emocionais que vêm logo depois desses eventos.
Por exemplo, se seu chefe gritar com você e mais tarde, naquela noite, você sonhar com isso, da próxima vez que encontrá-lo vai se sentir menos emotivo em relação àquele episódio. Pesquisadores afirmam que sonhos vívidos, emotivos e memoráveis durante o estágio profundo do sono são as manifestações de nossos cérebros armazenando memórias e "retirando a etiqueta emocional ou rasgando o recibo".
Uma coisa é ter sonhos ruins estranhos e benéficos e outra totalmente diferente é ter pesadelos crônicos. Nesses casos, é preciso procurar a ajuda de um especialista. "Seu cérebro pode ter a intenção de processar esse evento emocional, mas ele fica preso porque você acorda no meio dele e não vai até o fim. Uma vez que você tem pesadelos por um longo período de tempo, eles se tornam uma espécie de hábito", explica a psicóloga Joanne Davis, observando que alguns dos pacientes que ela atende viveram com pesadelos crônicos por décadas antes de procurarem ajuda: "Você se preocupa em ter um pesadelo, talvez evite dormir ou tente dormir o mais rápido possível - então se automedica para passar a noite", comenta.
Davis entende a importância de tratar os pesadelos não apenas como um sintoma de um problema mais amplo. "Algumas décadas atrás, nosso campo considerava os pesadelos um sintoma de transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). Mas, se não for muito exagerado dizer, houve uma mudança de paradigma para pensar nos pesadelos como a marca registrada de muitos dos problemas. Se você resolver os pesadelos primeiro, poderá resolver as outras coisas que estão acontecendo (como depressão e dependência química)", conclui.
Música e sono, ao contrário do que muitas pessoas acham, não são a combinação ideal. De acordo com um estudo publicado na Psychological Science, ouvir música antes de dormir pode aumentar as chances de ter distúrbios do sono. Os cientistas mostraram que uma canção não desestimula o cérebro, pelo contrário: mesmo adormecido, o cérebro continua a processar o som por várias horas, mesmo depois que ele para.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores do Departamento de Psicologia e Neurociências, da Universidade de Baylor nos Estados Unidos, investigaram a relação entre ouvir música e dormir, focando em um mecanismo raramente explorado: imagens musicais involuntárias e que se repetem continuamente na mente de uma pessoa. Esse mecanismo é chamado de "earworms", em inglês - algo como "melodia que gruda", em português, ou a chamada música "chiclete".
Segundo os pesquisadores, já era sabido que algumas músicas ou melodias podiam ficar se repetindo continuamente na mente das pessoas, enquanto elas estavam acordadas, mas o estudo demonstrou que o efeito também acontece enquanto dormimos.
Além disso, a investigação revelou que a capacidade da música instrumental de gerar uma "melodia que gruda" e interferir na qualidade do sono é maior do que as músicas líricas (que possuem falas).
No estudo experimental, os pesquisadores tentaram induzir 50 participantes a ficarem com uma determinada melodia na cabeça para determinar como isso afetava a qualidade do sono. Por isso, os participantes tiveram que ouvir três canções populares, tanto na versão com voz quanto na instrumental antes de pegar no sono. As músicas escolhidas foram "Shake it off", da cantora Taylor Swift, "Call me maybe", de Carly Rae Jepsen, e "Don't stop believin", da banda Journey.