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25/04/2021

Poder de compra cai e ter nota de R$ 100 na carteira perde cada vez mais status

Em um passado não tão distante, a garoupa na nota azul de R$ 100,00 já foi símbolo de 'status' e 'ostentação' para o brasileiro médio. Porém, com a alta de preços e a consequente perda do poder de compra da população, a cédula tem representado cada vez menos itens na sacola do consumidor.

Segundo Filipe Ferreira, mestre em finanças pela USP e diretor da plataforma de informações financeiras Comdinhiero, para comprar o que se adquiria no início dos anos 2000 com R$ 100,00, são necessários, hoje, R$ 357,00. Trata-se de uma diferença expressiva, que demonstra o quanto o custo dos produtos tem pesado no bolso das pessoas. "A sensação que o consumidor tinha ao sacar uma nota de R$ 100,00 naquela época é a mesma de quando ele saca esses R$ 357,00 agora", explica.

Para se ter ideia, de acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o custo médio da cesta básica de alimentos aumentou 23% somente nos últimos 12 meses, avançando de R$ 518,50 para R$ 639,47 no fechamento de março. O valor mais que dobrou na comparação com dez anos atrás: em 2011, os mesmos itens da cesta podiam ser comprados com duas notas de R$ 100,00, uma de R$ 50,00 e outra de R$ 10,00.

Já para encher um tanque de combustível, o proprietário de veículo precisar desembolsar, em média, cerca de R$ 250,00 atualmente, o que equivale a quase um quarto de salário mínimo. Se for abastecer com etanol, o valor diminui para cerca de R$ 170,00, porém, segue acima do que a cédula da garoupa é capaz de pagar.

CHOQUE DUPLO

Por trás dos aumentos assustadores, está um choque duplo de preços. Por um lado, os consumidores precisam arcar com o dólar mais alto e, por outro, com as consequências da alta, no mercado internacional, dos preços de produtos básicos da alimentação e da indústria, as chamadas commodities. Exemplos são a soja, o milho, café, açúcar, carnes e petróleo.

"Historicamente, a arroba do boi era menos de R$ 100,00, mas chegou a R$ 300,00 ao preço internacional. E estes valores das commodities acabam sendo referência para venda no mercado interno. Além disso, tivemos insuficiência de oferta de produtos no País devido à menor produção da indústria no ano passado, aliada à retomada do consumo das famílias após a concessão do auxílio emergencial, o que também pressionou os preços", detalha o economista Reinaldo Cafeo.

E, de acordo com o financista Filipe Ferreira, neste período específico de pandemia de Covid-19, em que os indivíduos tenderam a ficar mais em casa, a percepção de perda de poder de compra é mais acentuada em relação ao gêneros alimentícios, já que os consumidores reduziram gastos com outros produtos, como roupas, calçados, cosméticos e eletroeletrônicos.

"Os preços dos bens de que mais precisamos neste momento acabam subindo de forma mais significativa. E essa vivência, de gastar mais e levar menos, acaba gerando angústia nas pessoas", completa.

Desemprego agrava mais o cenário

Malavolta Jr.

Além do aumento dos preços, a perda do poder de compra está diretamente relacionada ao cenário de desemprego no Brasil, que atingiu taxa de 14,2% neste início de ano.

Hoje, mais de 14,3 milhões de pessoas estão fora do mercado de trabalho, representando um enorme contingente populacional que depende de 'bicos' para sobreviver.

Já quem está empregado continua tendo renda, mas com perdas acumuladas ao longo dos últimos anos por não conseguir negociar reajustes salariais sequer para recomposição da inflação. É este contexto que explica que, mesmo com índices de inflação semelhantes em um passado recente, a perda de capacidade de consumo não era tão acentuada como agora.

Um exemplo é o ano de 2011, em que a taxa de desemprego atingiu a mínima histórica de 6%, com inflação de 6,5%. Já em 2021, a inflação esperada é de 5%. "Em uma situação de quase pleno emprego, com o mercado de trabalho aquecido, o poder aquisitivo é mantido, com reajustes salariais até mesmo alguns pontos percentuais acima da inflação. Porém, o momento que atravessamos é o oposto disso. Então, com os preços em alta, as pessoas terão de consumir menos ou trocar produtos por marcas mais baratas", descreve Reinaldo Cafeo.

O aumento dos preços dos produtos impacta muito mais violentamente a população de baixa renda. Mesmo que os índices de inflação sejam iguais para todas as faixas, são os que vivem em condição de vulnerabilidade que, não raramente, deixarão de ter o essencial para sobreviver. Porém, o cenário econômico atual tem sido muito mais crítico para esta fatia da população, conforme demonstra indicador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No acumulado em doze meses encerrado em março, a taxa de inflação das famílias mais pobres foi de 7,2%, bem acima da observada entre as mais ricas, de 4,7%.

"A inflação dos produtos básicos explodiu, enquanto dos supérfluos, que continuaram fazendo parte do consumo dos mais ricos, não. Eles entraram em oferta, porque as empresas registraram queda de vendas. Fora isso, os mais ricos ainda conseguem descontos no pagamento à vista, além de terem a possibilidade de compensar eventuais perdas fazendo aplicações financeiras", frisa o economista Reinaldo Cafeo.

Atualmente, conforme o JC divulgou, 70 mil pessoas em Bauru vivem entre as faixas de pobreza e extrema pobreza, segundo dados da Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes).



Fonte: JC Net
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