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23/08/2021

Primeiro título da história do MAC completa 50 anos

Com gol aos 32 minutos do 2º tempo, o Marília venceu o Saad/São Caetano no antigo Palestra Itália, em São Paulo

O primeiro título da história do Marília Atlético Clube (MAC) completa 50 anos nesta segunda-feira (dia 23): o Campeonato Paulista da 1ª Divisão de 1971 (atual Série A-2). O troféu foi conquistado no antigo estádio Palestra Itália (hoje Allianz Arena), em São Paulo (campo do Palmeiras), no último jogo da fase final, com a vitória de 1 a 0 sobre o extinto Saad/São Caetano. O gol foi marcado pelo ponta-direita Ivo Picerni, aos 34 minutos do segundo tempo.

Com a conquista do título em São Paulo, o prefeito Octávio Barreto do Prado decretou feriado municipal em Marília, no dia seguinte ao jogo (24 de agosto). “A partida foi em um domingo e na segunda-feira a cidade parou para nos receber, mas antes de voltarmos fomos pagar nossa promessa em Aparecida do Norte”, lembrou o zagueiro e capitão Josias Simões de Brito, o “Brito”, em entrevista ao JM em agosto de 2011, quando o título completou 40 anos.

 

Os jogadores maqueanos desfilaram em um carro do Corpo de Bombeiros pelas ruas de Marília. “Aquela cena marcou bastante. As ruas estavam lotadas e a viatura andava com dificuldades, pois tinha muita gente”, frisou Brito, que morreu em 2015. Quem também falou sobre a festa na chegada em Marília foi o autor do gol do título, Ivo Picerni, em entrevista ao JM em 2018. “Já tinha uma fileira de carros nos esperando perto de Garça e nos colocaram em um carro do corpo de bombeiros. Foi uma festa sem igual. Marília inteira veio comemorar com a gente. Fico muito orgulhoso de ter jogado no MAC e ter feito parte dessa história tão bonita, de um clube tão tradicional do Brasil. As pessoas da cidade sempre me trataram muito bem e o meu carinho é enorme”.

 

Roupeiro maqueano da época, Jaci Conceição da Silva, de 70 anos, conhecido como “Tostão”, lembrou que no desfile em carro do Corpo de Bombeiros pelas ruas, o semáforo do cruzamento da Avenida Rio Branco com a Santo Antônio, acertou o rosto do Waldemar. “Não chegou a pegar em cheio, foi de raspão, perto da orelha (risos). Até hoje eu tiro sarro dele por isso”, citou.

Com o troféu de campeão, o MAC ganhou o direito de disputar o Paulistinha da mesma temporada, que era uma competição de acesso para a Divisão Especial. A participação maqueana na elite estadual só aconteceu em 1975. A conquista de agosto de 1971 veio um ano e meio depois do Marília ter voltado em definitivo (até os dias atuais) ao profissionalismo. Na época, o clube era presidido pelo vereador Pedro Sola.

 

A chegada do ‘Bruxo’

 

Em 1971, o MAC disputou o Paulista da 1ª Divisão pela segunda vez, desde que encerrou suas atividades após a edição de 1957. Em 70, o clube participou da competição, mas não passou da 1ª fase. Foram 16 jogos realizados com: sete vitórias, cinco empates e quatro derrotas. Já na temporada do título, o Marília jogou 14 partidas na 1ª fase e se classificou em 2º lugar com 20 pontos – só atrás do Garça (23). O 3º e último classificado do grupo foi o Corinthians/Presidente Prudente (18).

 

A campanha maqueana teve nove vitórias, dois empates e três derrotas (71,4% de aproveitamento) – na época a vitória ainda valia dois pontos. Após a 11ª rodada, com a derrota de 1 a 0 fora de casa para o Araçatuba, sendo somente o segundo revés até então, a diretoria maqueana decidiu demitir o técnico Francisco Valeriano de Almeida. No dia 18 de maio foi apresentado Alfredo Sampaio, conhecido como Alfredinho, o “Bruxo” – apelido era por conta de ter evitado 18 rebaixamentos de clubes em campeonatos estaduais.

 

Alfredinho estava de volta ao MAC após nove meses. No Paulista da 1ª Divisão de 1970, ele substituiu João Lima após a 5ª rodada, mas acabou não conseguindo classificar a equipe e deixou o Alviceleste. O treinador reestreou no dia 24 de maio, em que o Marília goleou o Linense por 4 a 0, no estádio Bento de Abreu, garantindo a classificação com duas partidas de antecedência. O Bruxo levaria o clube ao seu primeiro título na história.
 

“Eram dois estilos de comandar completamente diferentes. O Valeriano era uma pessoa calma, tranquila e conversava bastante. Já o Alfredinho era linha dura e muito supersticioso. Em todo clube que dirigia, ele levava uma mãe de santo para benzer os jogadores antes dos jogos”, comentou o zagueiro Brito.

 

Classificado de novo na vice-liderança

 

Assim como aconteceu na 1ª fase, o MAC se classificou na 2ª também como vice-líder, no chamado “Torneio dos 10”, em que todos jogavam entre si em turno único e somente os cinco primeiros colocados avançaram. O líder da chave foi o Saad/São Caetano com 14 pontos, seguido por: Marília, Rio Preto e Catanduvense (todos com 13), e Garça (12). Os eliminados foram: Corinthians/Prudente, Esportiva/Guaratinguetá, Santo André, Barretos e União Barbarense.

 

Nesta 2ª fase, a campanha maqueana foi de seis vitórias, um empate e duas derrotas (70,3% de aproveitamento). Os números no estádio Bento de Abreu eram os que mais chamavam a atenção. O Alviceleste estava invicto em casa com nove vitórias e dois empates (87,8%).

 

Os cinco clubes classificados para a fase final do Campeonato Paulista da 1ª Divisão foram decidir quem seria o campeão – e único com acesso ao Paulistinha – no antigo estádio Palestra Itália, em São Paulo. Logo na estreia, o MAC foi derrotado pelo Rio Preto, mas se recuperou nas duas rodadas seguintes com vitórias sobre: Garça (1 a 0) e Catanduvense (3 a 2).
 

Na 1ª rodada, o Marília estreou com derrota para o Rio Preto (2 a 0) e a Catanduvense bateu o Garça por 1 a 0. O Alviceleste folgou na rodada seguinte e viu o Garça empatar sem gols contra o Rio Preto e o Saad ganhar de 3 a 0 da Catanduvense. Na 3ª rodada, Rio Preto e Saad ficaram no 0 a 0 e o MAC venceu o Garça por 1 a 0, eliminando o adversário. Já na penúltima rodada, o time maqueano fez 3 a 2 na Catanduvense e também tirou o rival da luta pelo título, enquanto o Saad conseguiu a vitória por 3 a 0 sobre o Garça.

 

Última rodada com 3 clubes na briga

 

Somente o campeão da 1ª Divisão garantia acesso para jogar o Paulistinha do mesmo ano, que começaria uma semana depois desta última rodada. A classificação antes da rodada final, tinha o Saad/São Caetano como líder com cinco pontos e saldo positivo de gols de seis. O Rio Preto era o 2º colocado com quatro pontos (saldo 2) e o MAC com a mesma pontuação aparecia em 3º lugar, mas ficava atrás pelo saldo de gols (0). Catanduvense com dois e Garça com um já estavam eliminados.

 

Na última rodada, o primeiro jogo no Palestra Itália era entre Saad x MAC e na sequência jogavam Rio Preto x Catanduvense. A equipe de São Caetano dependia apenas de si e até mesmo um empate contra o Marília, já daria boas chances de título, pois o Rio Preto teria que tirar uma diferença de quatro gols em caso de vitória. O Marília só seria campeão se vencesse o Saad e se o Rio Preto não ganhasse do eliminado Catanduvense. E o improvável aconteceu em São Paulo....

 

Ivo lembrou que antes da partida, ninguém (jogadores e comissão técnica) acreditava no título. “Um dia antes da partida o Alfredinho chegou a deixar um garrafão enorme de pinga na concentração para quem quisesse beber. Quem estava mais interessado em nossa vitória era o Rio Preto, porque se nós vencêssemos o Saad e eles ganhassem da Catanduvense, o acesso era deles”, recordou.

 

Nesta fase final da competição em São Paulo, a delegação maqueana ficou concentrada na chácara Nicolau Moran, na rodovia Imigrantes. “Esse local era o mesmo em que o Santos ficava concentrado. “Me lembro que o Ivo chegou em um quarto e falou que esse era a cama em que Pelé dormia e que iria ficar com ela. No dia seguinte, acordou com torcicolo”, disse o Jaci Conceição.

O roupeiro ainda frisou que antes da rodada final, o técnico Alfredinho pediu a ele que fosse até Santos e levasse galões para pegar água do mar. “Falou que era para lavar os pés dos atletas antes do jogo. Foi engraçado, no vestiário do Palestra Itália o Alfredinho me pediu para jogar a água nos pés dos atletas. Do lado de fora, o zelador do estádio viu a água saindo por debaixo da porta e achou que havia estourado algum cano (risos). Eram superstições do técnico”.
 

Vitória sobre o Saad e título inédito

 

Ainda no vestiário antes da partida contra o Saad, o roupeiro Jaci ficou incrédulo com uma decisão tomada pelo técnico Alfredo Sampaio. “Ele entrou e disse que o Brito (zagueiro e capitão) e o Raimundinho (goleiro) não iriam jogar, porque houve uma informação de que eles teriam vendido o jogo para o Saad. Aquilo caiu como uma bomba no elenco, todo mundo ficou surpreso”.

 

Raimundinho tinha sido titular em toda a campanha do Paulista da 1ª Divisão e acabou substituído pelo goleiro Renato, que havia jogado apenas um amistoso na temporada. Já o zagueiro Brito saiu para a entrada do lateral-esquerdo Betão. Com isso o lateral Henrique Pereira atuou como zagueiro. Quando entrevistado em 2011 pela reportagem JM, Brito disse que ficou de fora da última partida por causa de uma lesão muscular.

 

Apesar de não ter atuado, Brito disse que ficou no banco de reservas e lembrou que uma dica dada no vestiário foi decisiva para o gol do título, marcado pelo atacante Ivo, aos 34 minutos do segundo tempo. “Eu avisei aos atacantes que o Flávião (zagueiro do Saad) tinha um problema na perna e tinha dificuldades de subir de cabeça, pois ele jogou comigo no Noroeste. O gol saiu justamente nas costas dele. O Ivo era o jogador mais baixo do nosso time e mesmo assim subiu de cabeça com o Flavião e marcou o gol da vitória”.

 

Com 1,67 metro de altura, Ivo lembrou como aconteceu o gol da vitória. “Lembro-me que a jogada começou do campo de defesa. O Renato (goleiro) saiu jogando pela direta com o Juvenal (lateral), que tocou de lado para o Zé Luiz no meio. Ele lançou novamente o Juvenal pela direita, que foi até a linha de fundo. Eu entrei na área, mas me afastei um pouco do marcador, porque eu não tinha tamanho para disputar com ele pelo alto e quando o cruzamento veio pelo alto eu estava fora da pequena área para cabecear”, detalhou.

 

“Eu estava na boca do vestiário quando saiu o gol. Não me contive e entrei no gramado para comemorar. Lembro que nas arquibancadas, o torcedor do Saad já gritava ‘é campeão’. Eles já tinham até faixas prontas no vestiário. Eles nunca imaginaram perder para nós”, recordou o roupeiro Jaci.
 

Antes da rodada, todos os personagens entrevistados nesta matéria, confirmaram que o Rio Preto deu uma “mala branca” (dinheiro) para o MAC vencer o Saad. Porém, com a vitória sobre o Saad, a “ajuda financeira” que o Marília recebeu foi revertida para pagar a eliminada Catanduvense, para não perder para o Rio Preto. “Foi engraçado, porque após nossa vitória o Anísio Haddad (presidente do Rio Preto) veio todo feliz nos agradecendo pela ajuda, só que eles precisavam ganhar da Catanduvense e como perderam o título ficou com a gente”, lembrou Ivo.

 

O time de Catanduva venceu por 1 a 0 e o Marília comemorou o primeiro título da história nas arquibancadas do Palestra Itália.

 

Ficha técnica da final:

 

Local: Estádio Palestra Itália, em São Paulo

Renda: Cr$ 33.635,00

Árbitro: José Favili Neto

Gol: Ivo 34/2T (Marília)

 

Marília – Renato; Juvenal, Henrique Pereira, Elmo e Betão (Paulinho); Ari e Waldemar; Warley, Zé Luiz, Wilson e Ivo. Técnico: Alfredinho.

 

Saad/São Caetano – Ronaldo; Roberto, Flávio, Oscar e Ari (Clemente); Zaneti e Raimundo; Antenor, Copine, Arlindo e Fernandez.


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