Vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o empresário José Ricardo Roriz Coelho é defensor da autorização para que o setor privado possa adquirir vacinas contra a Covid-19. Segundo ele, a proposta, que já passou pelo Senado e foi aprovada pela Câmara dos Deputados nesta semana, será importante para acelerar o processo de imunização dos brasileiros e, assim, permitir que a pandemia seja controlada mais rapidamente e a atividade econômica, retomada em sua totalidade.
Em entrevista ao JC, ele pontua que, diante do atraso na aquisição de vacinas pelo governo federal, o setor privado precisa mobilizar esforços junto ao poder público para agilizar a compra de doses em número suficiente para vacinar toda a população. Pela proposta legislativa, que ainda depende de sanção presidencial, os imunizantes deverão ser integralmente doados ao SUS até que todos os grupos prioritários estejam vacinados. Depois, as empresas deverão doar metade das doses aos sistema público e aplicar as demais de graça.
Candidato à presidência do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Roriz também briga na Justiça para que a chapa liderada por ele para disputar a eleição da Fiesp, que foi impugnada, possa concorrer ao pleito. A definição do comando dos dois órgãos ocorre em 5 de julho.
Na entrevista, Roriz também analisa, entre outros assuntos, os impactos sofridos pelo setor em 2020 e as medidas necessárias para que as empresas e os empregos possam sobreviver à segunda onda da pandemia. Leia, a seguir, os principais trechos.
JC - O Congresso aprovou, recentemente, projeto de lei que autoriza empresas a adquirirem vacinas. Como o senhor avalia esta possibilidade?
José Ricardo Roriz - Quanto mais o processo de vacinação acelerar, mais cedo vamos sair da crise econômica e melhor será para a saúde da população, porque haverá cada vez menos pessoas sendo contaminadas. O Brasil atrasou na compra das vacinas, então, os setores público e privado precisam se unir. Precisamos vacinar o maior número de pessoas no menor prazo possível, até que o número de vacinados seja suficiente para estabelecer o controle da transmissão do vírus, porque só assim a economia poderá ser retomada em ritmo normal.
JC - Como o senhor avalia os impactos da pandemia para a indústria?
Roriz - No que diz à saúde, a indústria, obedecendo todos os protocolos, deu conta da demanda: não faltou nada, praticamente, em termos de alimentos, produtos de limpeza, produtos de primeira necessidade na casa dos brasileiros. Mas tivemos um boom de consumo, porque foram repassados trilhões de dólares pelo mundo para manutenção da economia e a subsistência dos mais desassistidos. Com isso, houve elevação dos preços das matérias-primas. Algumas plantas pararam em um primeiro momento e, quando voltaram, os estoques tinham sido consumidos. Houve um boom de consumo de commodities, fazendo com que os preços aumentassem bastante e faltassem produtos. Só no mercado brasileiro, foram colocados quase R$ 500 bilhões para 66 milhões de pessoas por meio do plano emergencial. Com consumo alto e desabastecimento, aumentou a inflação, bem como o endividamento do governo.
JC - Há alguma saída para este cenário em 2021?
Roriz - A indústria imaginava que a pandemia estaria sob controle em 2021 e que seria o início da recuperação econômica. Hoje, sem auxílio emergencial, há uma forte preocupação. O primeiro trimestre já está praticamente perdido, é preciso que haja um novo plano emergencial o mais rápido possível, mas sem aumento de impostos, porque isso sacrificaria ainda mais as empresas e as pessoas. É preciso haver cortes no custeio do serviço público, porque o aumento do endividamento do governo levaria à alta das taxas de juros. É uma equação que terá de ser resolvida nas próximas semanas. E também precisamos de reformas, como a tributária.
JC - O senhor mencionou os problemas de desabastecimento. A indústria já conseguiu adequar sua produção à demanda?
Roriz - A indústria de transformação tem capacidade para produzir, mas faltam matérias-primas e as que estão disponíveis subiram muito de preço, sejam importadas ou brasileiras, que têm o dólar como referência. E a indústria não tem como repassar esse custo para o consumidor, até porque o poder de consumo da população diminuiu, pelo desemprego, pelo fim do auxílio emergencial e pelo aumento da inflação.
JC - O governo federal estuda reeditar o programa de redução proporcional de jornadas e salários. Qual a avaliação do senhor sobre esta medida?
Roriz - As empresas vão analisar o momento, porque ainda permanecem com o compromisso de manter os empregos, mas também estão analisando as perspectivas, a capacidade de o governo solucionar as equações que mencionei anteriormente. De qualquer forma, acho este programa válido no sentido de evitar demissões.
JC - Em relação à atuação da Fiesp, o senhor avalia que a indústria do Interior do Estado tem recebido o mesmo respaldo na comparação com a região metropolitana?
Roriz - A Fiesp terá uma nova eleição em julho e, independentemente do resultado, a instituição deve privilegiar o Interior, onde a indústria cresceu muito. Hoje, ele tem uma participação do mesmo tamanho da região metropolitana. O empresário do Interior precisa ser valorizado e ter voz dentro da Fiesp e do Ciesp.