A vacinação em massa da população será a única forma de o País superar a pandemia e devolver aos brasileiros a esperança de retomar, com maior segurança, uma rotina com certa normalidade. Porém, a demora para a formalização de contratos para a aquisição de vacinas junto aos laboratórios fabricantes em 2020 faz com que, hoje, o Brasil só tenha imunizado 5% de sua população.
Já Bauru aplicou cerca de 10% das doses que terão de ser utilizadas para imunizar toda a população acima de 18 anos, público-alvo inicial do programa nacional. Em dois meses, foram 59.289 doses aplicadas (entre primeira e segunda dose), a profissionais de saúde e idosos com 72 anos ou mais - público que já começa a aparecer, cada vez menos, nas listas de óbitos por Covid-19.
Apesar de estar entre as dez cidades paulistas que mais vacinaram no Estado, há a expectativa para que a velocidade de imunização possa aumentar nos próximos meses, especialmente porque a taxa de contato entre as pessoas continua alta, o que representa risco para o desenvolvimento de novas variantes do coronavírus, ainda mais perigosas e, eventualmente, não cobertas pelas vacinas de que o Brasil dispõe atualmente.
"Como todo vírus de RNA, ele pode sofrer mutação facilmente. E, com certeza, a situação grave que a gente está enfrentando agora tem relação com as cepas novas que já surgiram", destaca o médico infectologista Taylor Endrigo Toscano Olivo, que atua em hospitais da rede pública e privada de Bauru.
RISCO
De acordo com ele, estudos já demonstraram que a variante britânica, com circulação já confirmada em Bauru, aumentou as chances de complicações em pacientes de baixo risco. E trata-se de uma cepa semelhante à de Manaus, também presente na cidade e já comprovadamente mais transmissível que as anteriores, conforme demonstraram estudos realizados pela Fiocruz e pela USP.
"Mas o comportamento da população, que relaxou nos cuidados de uma forma geral, também foi decisivo para o momento que estamos atravessando. No ritmo de vacinação que temos hoje e com esta curva ascendente de mortes, poderemos encontrar alguma estabilização somente a partir de meados de abril, como resultado da fase emergencial", salienta, destacando que o lockdown, embora "catastrófico para a economia", é a única medida eficaz, já cientificamente comprovada, quando todos os recursos para garantir o atendimento da população estão esgotados.
Aceituno Jr.
O mês de março não acabou e já ficou marcado como o mais crítico de toda a pandemia, em Bauru. Do dia 1 até este sábado (20), 80 pessoas já tinham morrido em decorrência da doença, sendo que 20 sequer tiveram acesso à UTI em hospitais. Estavam sendo assistidas no 'mini hospital' ou em UPAs, enquanto aguardavam vaga de internação.
Secretário municipal de Saúde, Orlando Costa Dias reconhece a gravidade da situação, mas diz que um eventual lockdown só ocorrerá em último caso, por entender que a estratégia, que traz impactos ainda mais graves para uma economia já bastante penalizada, não é capaz de garantir a superação da pandemia.
"Agora, se houver um colapso total, pode-se até cogitar o lockdown. Por enquanto, o que as pessoas precisam é se conscientizar de que não dá para ficar confraternizando, andando sem máscara", avalia.
Da mesma forma, a prefeita Suéllen Rosim defende o equilíbrio entre saúde e economia, mas se posiciona contra lockdown, dizendo que os municípios que aderiram à estratégia continuaram na mesma situação. "Fechar a cidade não é solução, se não existe consenso entre todos. Não vai diminuir o número de casos", reitera.
Do início da pandemia até agora, o governo do Estado dobrou o número de leitos de UTIs no Hospital Estadual, de 29 para os 58 atuais, porém, neste momento, o montante continua insuficiente: já são mais de 20 dias com o serviço operando com 100% de ocupação ou acima deste limite. Na tentativa de não deixar os doentes completamente desassistidos, a Prefeitura também ampliou para 53 a quantidade de leitos em seu 'mini hospital'. O complexo oferece acompanhamento médico, remédios e exames, mas não conta com toda a retaguarda de um hospital.