Figura muito querida na filantropia em Bauru, Gessner Augusto Daré Junior é mais uma vítima da Covid-19. Ele, que tinha Síndrome de Down e estava com 55 anos, era bastante conhecido na cidade por conta da participação nas atividades do grupo Voluntários Em Ação, comandado há mais de duas décadas por seu irmão mais novo, Miguel Zaidan Daré. Também na companhia fraterna, Junior era presença constante - e muito alegre - em festas e demais eventos sociais antes da pandemia.
Junior foi sepultado no Cemitério da Saudade, no domingo (23). Ele morreu na noite do dia anterior (22). Ou melhor, fez a "viagem". Miguel conta que o irmão não gostava de dizer que alguém morreu. "Ele sempre dizia que alguém faleceu ou que a pessoa fez 'uma viagem'. Dessa vez, ele quem fez a viagem?", relata, emocionado.
De todas as palavras que são usadas para descrevê-lo, a que mais se destaca é 'companheiro'. "Recebi a missão divina de cuidar do meu irmão. Nossa mãe faleceu há 17 anos e, desde então, somos somente nós dois. E ele era meu companheiro para tudo, seja no mercado, nos eventos, nas ações de filantropia, nas festas, até no pilates. Claro que, durante a pandemia, ele não ia para os lugares por conta dos riscos. Mas ele era minha alegria de vida. Pensei que a gente fosse envelhecer juntos", diz Miguel.
Quando Miguel saía para trabalhar, Junior era zelado, há cerca de dez anos, pela cuidadora Maria Ignez Caetano.
Há algumas semanas, os irmãos testaram positivo para a Covid-19 e foram internados em um hospital particular de Bauru. "Só que o Junior retirava os aparelhos, o suporte de oxigênio? então, precisou ser levado para a UTI, para ser sedado, onde ficou por cerca de 20 dias. Nesse meio tempo, eu tive alta. Na quinta (20), o médico disse que ele estava melhorando. Mas, no sábado (22), ele faleceu", detalha Miguel.
'MOMENTOS MÁGICOS'
Nos últimos anos, Junior e Miguel também se aproximaram do pequeno Francisco, o Super Chico, que também tem Down, e da mãe dele, Daniela Guedes. "Sempre que vinham em casa, era uma alegria sem fim, momentos mágicos de puro amor, já que se juntavam Chico e Junior. Sempre feliz, lindo, arrumadíssimo pelo seu irmão Miguel. Uma tristeza profunda ter recebido a notícia de seu falecimento. Me sinto extremamente privilegiada de ter convivido com ele, a pureza em pessoa, um 'menino' muito querido por nós e de quem lembraremos por toda a vida", lamenta Daniela.
GUERREIRO
Já em seus primeiros anos de vida, Junior se mostrou um guerreiro. Nasceu pesando 1,2 quilo, com Síndrome de Down e Mal de Simioto. Como, na década de 1960, quando ele nasceu, a medicina ainda não era tão avançada, os médicos disseram que ele viveria entre 15 e 20 anos.
Porém, Junior não só viveu muito além disso, como se tornou o principal companheiro do irmão mais novo. Ainda mostrou um belo lado artístico e cheio de vida.
Ele também acabou sendo alfabetizado na Apae, onde foi um dos primeiros alunos. Junior, inclusive, tinha como lema de vida: "Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa", que ouvia na Escolinha do Professor Raimundo. "Ele era muito conhecido, porque sempre dançava com todos nos bailes da terceira idade, nas baladas. Adorava cantar. Era muito humilde, só me pedia um lápis de cor e um papel, para poder desenhar", narra Miguel.