Depois de resultados ruins no primeiro semestre do ano passado, quando a produção industrial sofreu forte desaceleração em meio ao avanço da pandemia, as exportações em Bauru voltaram a crescer. De janeiro a junho de 2021, as indústrias da cidade exportaram o equivalente a US$ 143,3 milhões, 39,7% a mais do que o valor alcançado no mesmo período de 2020, de US$ 86,4 milhões.
E o resultado deste ano foi, também, 21,5% melhor na comparação com o período pré-pandemia, já que, no primeiro semestre de 2019, as indústrias locais remeteram US$ 112,5 milhões em produtos para outros países. Da mesma forma, o volume de importações e o superávit da balança comercial também foram maiores em 2021, ante aos dois anos anteriores. Os dados são da plataforma Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Apesar de os números representarem otimismo, representantes do setor lembram que os exportadores representam apenas 2% da indústria. Destacam também que, em um cenário de dólar ainda alto frente ao real, o que encareceu o preço de insumos, apenas as grandes empresas foram efetivamente favorecidas neste primeiro semestre.
DEMANDA REPRESADA
Segundo o diretor da Regional Bauru do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Gino Paulucci Júnior, a atividade industrial não teve ótimo desempenho no início de 2019, em razão do cenário de incertezas sobre os rumos que seriam tomados pelo governo Jair Bolsonaro. Já em 2020, o cenário piorou com a chegada da pandemia, que gerou forte impacto nos fluxos do comércio internacional, com desaceleração das exportações especialmente para regiões como Europa e América Latina e países como os Estados Unidos.
"Em 2020, houve um nervosismo muito grande no mercado, o que levou à paralisação de vários negócios. O comércio ficou fechado no mundo todo e houve uma redução muito grande de demanda. No primeiro semestre de 2021, as atividades já estavam sendo retomadas, ainda que devagar, e havia uma demanda represada, de pessoas que tinham ficado sem fazer compras", analisa.
O diretor projeta que, com o provável arrefecimento da pandemia, a tendência é de ampliar o nível de exportações e da atividade industrial como um todo.
MERCADO INTERNO
Já para o empresário Domingos Malandrino, conselheiro do Ciesp, o cenário não é tão otimista. Ele analisa que as exportações podem ter aumentado em 2021 porque, diante do encolhimento do mercado interno, um maior número de empresas teria passado a buscar negócios com outros países para compensar as perdas. Pontua, ainda, o fato de Bauru contar com a distribuidora de uma grande empresa siderúrgica, sem parque fabril na cidade, que, sozinha, puxa para cima os números (leia mais abaixo).
"E a China continuou importando muito aço na pandemia. Vejo que as vendas estão aquecidas para produtos ligados à infraestrutura, como maquinário pesado, tubulações e ferragens", diz. O conselheiro também salienta que apenas 2% das indústrias do País são exportadoras e que, no geral, o setor continua sofrendo com os efeitos da pandemia, bem como do dólar alto, embora, nos últimos meses, a paridade entre a moeda americana e o real tenha aumentado.
"Muitas matérias-primas e insumos são cotados em dólar. Além disso, houve aumento de despesas com álcool em gel, máscara e adequações para garantir o distanciamento. E, no mercado interno, não há mais como repassar estes custos para os consumidores", observa.
A indústria de Bauru conta com uma particularidade: é sede da distribuidora de uma das maiores empresas produtoras de aço do mundo. E, por este motivo, ano a ano, as mercadorias que a cidade mais exporta são justamente barras de ferro ou aço, que totalizaram US$ 61,8 milhões em remessas ao Exterior neste primeiro semestre, o que corresponde a mais de 40% do total comercializado.
Porém, o que os representantes do segmento pontuam é que, como a empresa não possui um parque fabril em Bauru, não contrata muitos empregados, com pagamento de salários que contribuam para movimentar a economia do município. Como benefício para a cidade, resta uma significativa arrecadação de impostos aos cofres municipais.
O fato é que, há mais de dez anos, este produto está entre os mais exportados por Bauru. No primeiro semestre de 2021, além das barras de ferro ou aço, estão no topo do ranking carnes bovinas congeladas (US$ 21,8 milhões) e acumuladores elétricos (US$ 13,9 milhões).
Já em relação às importações, a liderança ficou com aparelhos de terapia respiratória (US$ 14,5 milhões), que não apareciam no topo do ranking em anos anteriores à pandemia. "O que a gente supõe é que talvez algumas indústrias da cidade tenham sido intermediárias na compra destes itens para os hospitais ou outras unidades de saúde", avalia Gino Paulucci Júnior.
Na sequência da lista, figuram chumbo em formas brutas (US$ 4 milhões) e cebolas e alho frescos ou refrigerados (US$ 2,9 milhões).