Agricultores de Bauru e região, principalmente de hortaliças, amargam os prejuízos com o frio intenso dos últimos dias. Alguns chegaram a perder até 90% de suas produções depois que as plantações foram atingidas por geadas nas madrugadas desta segunda (19) e terça-feira (20). As baixas temperaturas congelaram as folhas, que, agora, estão sendo descartadas. Com isso, os consumidores podem encontrar, durante as próximas semanas, hortaliças mais caras e menos variedade no varejo, até que termine o ciclo de cultivo e a demanda seja suprida.
A análise é de Renato Theodoro Delgado, de 49 anos, assistente de planejamento da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável Regional de Bauru (CRDS), antiga Cati, vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado.
O engenheiro agrônomo avalia que o maior impacto foi na olericultura (hortaliças, legumes e verduras). "Em alguns pontos da região, fez zero grau e até temperaturas negativas na madrugada de hoje (ontem), quando a geada foi pior, e as folhas congelaram. Quando isso ocorre, elas perdem suas fibras, se quebram, e não podem mais ser comercializadas. Neste setor, teve que produtor que perdeu até 90%. Desde que terminei a faculdade, há 25 anos, não tinha visto uma geada como essa".
Segundo a CRDS, relataram perdas expressivas produtores do setor em Agudos, Avaí, Bauru, Botucatu, Cabrália Paulista, Jaú, Paulistânia, Piratininga, entre outras cidades vizinhas. Outro exemplo vem de Itatinga. Lá, conforme o JC noticiou ontem, 80% das folhagens da Horta Comunitária Cheiro Verde, foram comprometidas.
Delgado explica que, como o ciclo de desenvolvimento das hortaliças é de cerca de 45 dias, os vendedores deverão comprar de produtores mais distantes, para suprir a demanda até que os agricultores da região se recuperem. E isso deve afetar diretamente o bolso do consumidor. "Vai encarecer o valor das folhagens no mercado, principalmente pelo custo do transporte. É provável que haja menor variedade também", projeta. "Quem mais sofre com tudo isso são as agriculturas familiares, que cultivam em menor escala. Nem todas terão dinheiro para repor a perda. É um cenário preocupante", complementa.
O engenheiro agrônomo afirma que, apesar de alguns desses agricultores praticarem a olericultura em estufas - onde as folhas ficam protegidas -, a produção neste modelo não chega a suprir 10% da demanda dos consumidores.
Além disso, pontua que foram impactadas, em menores proporções, plantações de leguminosas e de certas frutas, como o tomate. Também houve registro, segundo ele, de perda total de áreas de pastagem.
PREJUÍZO DE R$ 10 MIL
Há dois anos, Leandro de Almeida Serpa, de 49 anos, possui um delivery semanal de hortaliças fornecidas diretamente para o consumidor final, ou seja, não trabalha com venda em varejo. O cultivo dos alimentos orgânicos é feito em sua propriedade rural Campesinos, em Piratininga, e 90% de seus clientes são de Bauru. "Na minha plantação, que tem um hectare, durante a geada, fez zero grau e 80% das folhas congelaram. Calculo um prejuízo de R$ 10 mil", lamenta ele, que também é presidente do Conselho Rural de Piratininga.
Para se ter uma ideia, Leandro afirma que, durante o inverno - período em que as plantas demoram mais para se desenvolver -, consegue cultivar, em média, 40 pés de alface americana por semana. Após a geada, porém, apenas oito tinham condições de colheita.
"Não vou aumentar meu preço temporariamente para suprir o prejuízo, porque tenho medo de perder meus clientes. Então, vou reduzir minha margem de lucro e torcer para me recuperar logo", finaliza o agricultor.
Após dois dias de frio intenso em Bauru, com, inclusive, recorde dos últimos 21 anos (3 graus nesta segunda-feira), o IPMet prevê que as temperaturas aumentarão gradualmente a partir desta quarta (21) no município.
Hoje, os termômetros devem variar entre 8 e 26 graus. Amanhã (22), a máxima prevista é de 28 graus e a mínima, de 11. A cidade segue sem previsão de chuvas.